quarta-feira

Festa de Nossa Senhora da Lapa de Vazante – MG - 2014



 
Trecho do livro “Festas de Carros de Boi”:

Carreiros da Lapa


Clóvis Cardoso de Oliveira, 75 anos, da Fazenda Paulista, município de Catalão. Esse, tinha muitas histórias pra contar. Ainda faço um livro só com ele! Mas, tomei uns aperitivos, comi uns tira-gostos, e consegui umas poucas pérolas de seu Clóvis. Senão, vejamos:
Ele foi a Vazante pela primeira vez em 1956,  a fim de participar da Festa de Nossa Senhora da Lapa,  prática que o povo catalanense mantém até hoje. Naquela época,  a família e os amigos dele vinham de carros de boi e a cavalo, demoravam em média cinco dias para percorrerem todo trajeto. Eles viajavam, mesmo em época de natureza caprichosa, final de abril e início de maio, quando chovia muito. Eles vestiam capa de chuva (capa plástica) toldavam os carros de boi com couro cru e folhas de buriti, mas os bois pegavam bicho (varejeira) de tanta chuva.  Algumas vezes viajavam com garrotes ainda bravos, mas no trajeto eles iam ficando mansos.  Também acontecia de alguns bois machucarem os cangotes e para curarem as feridas deles, passavam sebo de vaca com azeite de mamona. Aconteceu de boi ficar ervado, e para curá-lo administravam meio litro de banha com meio litro de rapadura raspada. Efiavam essa mistura goela abaixo do boi, e ele melhorava. Foram muitas as vezes que seu Clóvis foi à Lapa de carro de boi, algumas dessas vezes, carreando para os outros. No Pouso dos Pilões (pequeno povoado de Goiás, perto da divisa com Minas), seu Clóvis achou que havia carros demais indo para a festa e resolveu contá-los, só por curiosidade: 98 carros de boi. Procuravam andar em comitiva sempre que ia à festa na Lapa, como eles chamavam Vazante naquela época. Ao chegarem à praça da igreja, organizavam-se da melhor maneira possível, estacionando os carros enfileirados.  Para isso, esticavam fios de algodão tornando as fileiras quase perfeitas. Todos montavam as barracas do lado direito do carro,  e a média de um carro para o outro era de quatro metros, visando ter espaço suficiente para os romeiros passarem de um lado para o outro. A boiada era solta nos pastos da dona Tunica. Chegava gente de todos os lugares, centenas de carros, milhares de bois, cavalos e burros. Êta festa boa!

►A grande promessa

Seu Clóvis Cardoso de Oliveira, certa vez foi contratado por um fazendeiro para dar suporte com um carro de boi, para que ele cumprisse uma graça alcançada. Esse fazendeiro tinha feito uma promessa para Nossa Senhora da Lapa, para que, se a filha dele escapasse com poucas sequelas, da paralisia infantil da qual estava padecendo, ele iria cumprir o prometido. Sua filha melhorou, ficou apenas manca de uma das pernas. Consequentemente, no ano seguinte, esse pai percorreu a pé, carregando a sua filha de 10 anos, da localidade onde ele morava, até a gruta onde fica a imagem da Nossa Senhora da Lapa, em torno de 140 quilômetros. A honestidade de quem tem a fé de haver recebido uma graça, é mesmo surpreendente.


                               

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