Manoel Carlos
(1922-2012) contou que “Houve um garotinho... É que antigamente, na região, o
senhor sabe, Rogério. Só tinha mata por todos os lados, muitos peixes e bichos
de todos os feitios: cobras, veado, capivara, caititu, quati,
tamanduá-bandeira, macaco, queixada, sucuri, tatu, onças... Êh!, as onças!” E
explicou seu entendimento sobre as onças: “Se andasse suzinho, à noite, a onça
pegava a pessoa mesmo. Quando anoitecia, as cobra entravam nos rancho, ou nas
casa de pau a pique. Era perigoso por demais! Se pisasse em alguma, podia ser
picado.” Mas o foco da narração de seu Manoel
Carlos era mesmo a onça. “Quando se via uma, com seu filhote, era melhor
sair de perto, o bicho era perigoso demais!, principalmente se ela tivesse
acuada de cachorro. Moço, olhe, ela vinha pra cima mesmo! Se alguém se aproximasse da carniça que ela tivesse pegado,
ela pegava também. Mas onça não é ruim como o povo fala e entende. Podia passar
perto dela que ela não fazia nada. Só queria encher a barriga. Depois da
barriga cheia, elas num perturbava.” ‒ E ele foi contando: ‒ “Existia uma
mulher, colhendo algodão. Ela levou o filho pequeno com ela, e pra ele não
ficar no sol, colocou ele debaixo duma moita de mato, encima duma coberta. De repente, a dona escutou o menino dando
risada, e foi lá ver o que tava acontecendo. Avistou uma onça passando a pata
no garoto e ele gargalhando. A mulher gritou; a onça agiu; se apossou de sua
presa pelo pescoço, e ganhou a mata. Devia de ser hora do almoço. E houve um
garotinho, seu Rogério. Pois foi!”
* Trecho do
livro: FESTAS DE CARROS DE BOI, do escritor Rogério Corrêa
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