José Machado
Guimarães,
o Zé Machado, 84 anos, começou a
guiar boi, com sete anos de idade, e aos treze, já era carreiro. Chegou a fazer
algumas viagens até Coromandel, e muitas vezes foi até o porto localizado no
Rio Paranaíba. Durante vários anos, para levar e trazer mercadorias, ele fez
essa viagem uma vez por mês. Na ida levava feijão, queijo, carne de capado[1], ou seja,
rolo de toucinho, que era preparado assim: primeiro matavam o porco, tiravam a
carne e a salgavam, depois retalhavam o toucinho e o salgavam, em seguida
enrolavam a banda do porco com a carne dentro e passavam palha de bananeira por
fora, para amarrar e proteger a carne, formando um rolo. No retorno traziam
sal, arame ou outro produto industrializado. Ele participou da festa
tradicional como carreiro, até os seus 76 anos. Dessa idade em diante, tem
evitado acompanhar os trajetos a cavalo, devido a alguns problemas de saúde.
Mas vai a muitos pousos, e não perde a chegada, até porque, ela acontece
justamente em sua propriedade. Zé
Machado disse que “Tem muita saudade do ambiente de respeito de
antigamente. Naquela época, os jovens respeitavam os mais velhos; quase não existiam roubos nem as drogas de hoje”. Segundo
ele, “Essas festas de carro de boi ainda mantém um ambiente
familiar e de respeito, e vem gente de todo os lugares.” Seguiu contando que a
diversidade de pessoas inclui gente de vária nacionalidade. Uma vez, apareceram
em sua fazenda dois turistas franceses. Eles explicaram que estavam em Brasília
e viram um cartaz da festa de carros de
boi, e resolveram ver o que seria esse festival, só que em vez de irem
diretamente para Vazante, foram induzidos a ir para Belo Horizonte. Ao chegarem
à capital mineira viram que tinham sido enganados e conseguiram a rota certa
para Vazante, indo parar na fazenda de seu Zé Machado. Chegaram pela manhã e
ficaram lá o dia todo. O povo da fazenda não entendia quase nada do que os
franceses tentavam falar em português. E seu Zé Machado esclarece: “Depois de
muito lero-lero foi que comecei a entender alguma
coisa do que eles diziam, por causa
que aí fui acostumando os ouvidos.” Seu Zé Machado afirmou que os franceses
gostaram purdemais da festa, tiraram
muitas fotos, e no final do dia, perguntaram se no ano seguinte haveria outra.
Um dos franceses quis saber se ele podia trazer a família e se poderia se
hospedar ali na fazenda, de novo. Seu Zé, que é muito hospitaleiro, respondeu
prontamente: “Pode vim que nós damos um jeito, uai!” No ano seguinte, o francês
apareceu de novo, trazendo a mulher e a filha. Sua família se divertiu muito.
Estrangeiro que tem bom gosto, quando é rico, quer comprar à vista, o Brasil;
se é pobre, quer comprar a prazo; se é abaixo dessa linha, mas quer porque quer
ver nossa pátria, fica com as belas lembranças. Antes de ser mineiro, sou um
brasileiro muito agradecido por ter nascido nesse país.
[1]Após castrar um porco magro, esse
porco engorda e é chamado de capado. Um capado, abatido, fornece muita banha e
carne.
* Trecho do livro: FESTAS DE CARROS DE BOI, do escritor Rogério Corrêa
Para continuar lendo acesse um dos links abaixo:
Boa leitura,
http://www.carrosdeboi.com.br
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