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quinta-feira

O bicho pegador de gente, texto do livro Histórias de Carreiros

 Texto do livro Histórias de Carreiros, de Rogério Corrêa:


O bicho pegador de gente:


O Tião Corrêa contou que, antes do nascimento dele, o pai dele teve de fazer uma viagem de carro de boi até Patrocínio, para buscar uma carga, junto com outro carreiro e o 
candeeiro Caetano. Naquela época, antes de 1940, não havia automóveis na região de Vazante. Ao chegarem próximo à rodovia de Patrocínio,  avistaram um carro antigo que eles chamavam de baratinha, foi quando o Caetano viu aquele negócio estranho,  com dois homens dentro, fazendo um barulho esquisito,  se aproximando. Então, o menino largou a guia e saiu correndo pelo serrado afora. Correu, correu, retornou e pulou dentro do carro de boi. Ficou encolhido abraçando o cabeçalho. O carreiro tentou acalmá-lo dizendo: “Larga de ser bobo, isso é apenas um carro à gasolina”. Caetano respondeu: “Não senhor, não senhor é um bicho, e ele já pegou dois!” Com muita dificuldade conseguiram tirar o Caetano de lá e seguiram viagem. Ao chegarem a Patrocínio, não demorou muito para ouvirem o apito do trem de ferro (maria fumaça) que estava chegando à cidade. Mas quando Caetano viu o tamanho do bicho, com aquele barulho quase que ensurdecedor, novamente ele se desesperou, saiu correndo e entrou na primeira casa que estava com a porta aberta e se escondeu debaixo da cama. Enquanto ele entrava correndo para dentro da casa, os moradores se assustaram e saíram correndo para fora, com medo, sem saber o que estava acontecendo. O carreiro Joaquim Machado pediu licença aos moradores para entrar na casa deles e tirar o Caetano de lá. Quando ele pegou no pé do Caetano e puxou, o menino gritou: “Não me leva não! Tô com medo, tô com medo! O bicho tava falando ticomu, ticomu, ticomu, ticomu!”

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A maior festa itinerante de carros de boi do mundo


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quarta-feira

Carro de boi combina com alegria, comida caipira e música boa

 


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segunda-feira

Passagem de riacho durante a Festa de Carros de Boi de Vazante - MG


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quinta-feira

Carreiro experiente

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domingo

Carro de boi é pura tradição!

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Carro de boi sendo puxado por 7 juntas de boi cantando muito ao subir a Serra da Boa Vista

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quinta-feira

O bicho pegador de gente, texto do livro Histórias de Carreiros

Texto do livro Histórias de Carreiros, de Rogério Corrêa:

O bicho pegador de gente:


O Tião Corrêa contou que, antes do nascimento dele, o pai dele teve de fazer uma viagem de carro de boi até Patrocínio, para buscar uma carga, junto com outro carreiro e o



candeeiro Caetano. Naquela época, antes de 1940, não havia automóveis na região de Vazante. Ao chegarem próximo à rodovia de Patrocínio,  avistaram um carro antigo que eles chamavam de baratinha, foi quando o Caetano viu aquele negócio estranho,  com dois homens dentro, fazendo um barulho esquisito,  se aproximando. Então, o menino largou a guia e saiu correndo pelo serrado afora. Correu, correu, retornou e pulou dentro do carro de boi. Ficou encolhido abraçando o cabeçalho. O carreiro tentou acalmá-lo dizendo: “Larga de ser bobo, isso é apenas um carro à gasolina”. Caetano respondeu: “Não senhor, não senhor é um bicho, e ele já pegou dois!” Com muita dificuldade conseguiram tirar o Caetano de lá e seguiram viagem. Ao chegarem a Patrocínio, não demorou muito para ouvirem o apito do trem de ferro (maria fumaça) que estava chegando à cidade. Mas quando Caetano viu o tamanho do bicho, com aquele barulho quase que ensurdecedor, novamente ele se desesperou, saiu correndo e entrou na primeira casa que estava com a porta aberta e se escondeu debaixo da cama. Enquanto ele entrava correndo para dentro da casa, os moradores se assustaram e saíram correndo para fora, com medo, sem saber o que estava acontecendo. O carreiro Joaquim Machado pediu licença aos moradores para entrar na casa deles e tirar o Caetano de lá. Quando ele pegou no pé do Caetano e puxou, o menino gritou: “Não me leva não! Tô com medo, tô com medo! O bicho tava falando ticomu, ticomu, ticomu, ticomu!”

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Texto do livro Histórias de Carreiros, de Rogério Corrêa


Texto do livro Histórias de Carreiros:

→Técnicas utilizadas para amansar bois carreiros

Há várias técnicas para amansar bois carreiros. Cada carreiro ou candeeiro possui as
suas, embora algumas delas sejam mais eficientes que outras.
De modo geral, o amansador deve dedicar algum tempo a esse trabalho, ser paciente e inicialmente não deve fazer movimentos bruscos; falar baixinho, repetir o nome do animal com certa frequência, ou seja, deve possuir habilidades e destrezas exigidas na doma. Desaconselham-se colocar uma boiada brava no carro de boi e sair carreando no mesmo instante. É preciso passar por um processo de amansamento, habituar o animal a andar em parelha, à aceitação da canga, a saber usar a força em conjunto com os outros bois, a aceitar, reconhecer e obedecer aos comandos, saber realizar manobras, dentre outras habilidades esperada de uma boiada mansa e treinada.
Durante todo o processo de doma devem-se ter alguns cuidados para que não ocorram acidentes, sejam com os próprios bois, condutores ou terceiros. Não há uma idade específica para o boi ser treinado, mas quando são novilhos (garrotes) eles são mais dóceis, aceitam melhor a doma. Na maioria dos casos, eles escolhem-se juntas bem parecidas, mesma raça, tamanho, formato do corpo e coloração das pelagens semelhantes.
Alguns iniciam a doma amarrando cordas em volta do pescoço do bezerro ou novilho para ele se acostumar. Depois que se habitua, ajouja-se este a outro animal, e ensina-os a se locomoverem na mesma marcha, parelha. Posteriormente, alguns colocam as cangas e começam o arrastamento de pequenos troncos. Com o tempo, vai-se aumentando a carga, até se acostumarem a fazer força.
A partir dessa etapa, alguns estão aptos a serem colocados no carro de boi. Contudo, alguns carreiros advertem que o ideal é colocar na junta de coice e na de guia bois experientes; os novatos devem ser colocados nas juntas do meio, até que eles peguem mais experiências. Assim, posteriormente pode-se trocar as posições entre eles, para que aprendam a trabalhar nas funções desejadas, comutando, seja como bois de coice, do meio ou de guia.
Existem outros processos de amansamento, artifícios usados por muitos carreiros, como: novilho atrelado ao jungo giratório; novilho atrelado ao tornilho; novilho atrelado ao mourão.
Esses processos são semelhantes, pois em todos eles possuem um esteio grosso fincado firmemente no chão, com uma peça transversal na qual o boi é atrelado. O boi não tem como se locomover em linha reta, ele apenas fica circulando ao redor do esteio.
Há também o processo de atrelamento por uma peça de ferro, ou por um pequeno cambão com meadas nas pontas, para torcer a corda. Ali, se atrelam dois garrotes e os deixam soltos nas proximidades onde o carreiro esteja, até se acostumarem um com o outro, para depois passarem a outras fases.
Outra forma, é utilizando uma canga velha, mas esse método é em apenas um dos lados e em apenas um novilho. A canga é arrastada pelo novilho até que ele se acostume com o seu formato e peso.
Não se pode esquecer que mesmo que os bois sejam treinados, eles podem adquirir alguns hábitos que para muitos carreiros são defeitos, como: bois que jogam a canga ou negam a canga. Isso dificulta o trabalho do carreiro. Boi que dá coice no cambão, esses podem machucar o carreiro ou terceiros; aqueles bois que deitam e não se levantam, são chamados de boi que amua; boi escorão são aqueles que não fazem força; bois que negam guias são aqueles que bambeiam no momento de carrear; bois agressivos são perigosos e podem machucar pessoas ou animais etc.
Alguns carreiros mencionam que a doma de bois carreiros não é uma tarefa fácil. Nela se coloca a prova os conhecimentos e a desenvoltura do carreiro. Ultimamente, muitos deles não possuem as habilidades ou tempo necessário para esse fim. Tem carreiro preferindo contratar outro carreiro experiente para realizar a atividade que requer, principalmente, paciência, tempo, zelo e carinho com os animais.

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terça-feira

Manquezal das almas, trecho do livro Pescador de histórias


Texto do livro Pescador de Histórias, de Rogério Corrêa:

Manguezal das almas

 Algumas pessoas acham os mangues estranhos, e olha que nem conhecem o que aconteceu no mangue que ficou conhecido como manguezal das almas!
No século passado, algumas famílias tinham aquele manguezal como uma das principais fontes de alimento e de renda. Naquele mangue tinha peixes, caranguejos, camarões, mexilhões, ostras, cobras e muitos outros seres vivos que habitavam o rico ecossistema.
Lúcio conta que seu pai chegou a conhecer um pescador que amava e protegia aquele mangue.
Ainda novo o homem criava caso com os demais pescadores da vila para evitarem pescar em demasia; debatia quando alguém retirava caranguejos fora de época, ou outro alimento que o manguezal fornecia. Sempre alertava que, se os caranguejos fossem extraídos em excesso, seus netos não teriam aquela riqueza. Era um ambientalista, antes mesmo de esse termo ter sido cunhado ou estar na moda e, desconhecendo os conceitos que o definem, pois ele era analfabeto como muitos outros moradores. A sabedoria dele era tanta que sua leitura não parecia fazer tanta falta; um visionário, quando o assunto em pauta fosse a preservação da natureza.
Ele amava o manguezal e, por ironia do destino, foi no manguezal, quando ele estava capturando caranguejos, que uma cobra venenosa picou-o no pescoço. Levaram-no para a vila, mas ele não sobreviveu.
Depois da morte daquele senhor, começaram a acontecer coisas inexplicáveis no mangue. Ouviam-se gritos, zumbidos... E como é comum em coisas do outro mundo, ninguém encontrava a origem dos sons. Pouco a pouco os pescadores foram ficando receosos de pescar sozinhos no mangue, e decidiram andar em grupo.
Três pescadores mais novos, que não ligavam muito para boatos, decidiram ir ao manguezal em um número menor de pessoas. O plano deles era aumentar a captura de peixes e crustáceos, e em pouco tempo conseguiram isso. Tudo que pegavam vendiam, e foram comprando mais redes, armadilhas e pequenas canoas para apanharem cada vez mais pescado.
Além das redes e armadilhas iniciaram a pesca na encosta. Certo dia, os três barcos ficavam alguns metros um do outro durante a pescaria. Era uma noite de lua cheia e já tinham pescado muitos peixes. De repente, começaram a ouvir barulhos e zumbidos estranhos. Acenderam os lampiões e nada avistaram. Resolveram continuar pescando. Algum tempo depois ouviram uma forte batida bem próximo a eles. Ao olharem em direção ao barulho na água, viram sobre ela um vulto indo em direção ao mangue. Todos se assustaram, mas pensaram que fosse um bicho qualquer. Em seguida ouviram uma voz raivosa:
― Saiam daqui agora! Este mangue é meu!
Depois dessa afirmação, alguma coisa virou um dos barcos. Os outros pescadores estranharam e começaram a olhar ao redor, e  ao verem que alguma coisa estava indo em direção aos seus barcos, eles se jogaram na água e seguiram nadando para as margens, que não ficava longe.
A notícia se espalhou; comentários de que, se alguém fosse subtrair coisas em demasia do mangue, as almas dos protetores do manguezal apareceriam para eles e tomariam tudo.
Lúcio afirmou que até nos dias atuais as pessoas mais velhas daquele povoado ainda ensinam aos mais jovens a não tirarem mais do que o necessário do mangue, caso contrário terão de se haver com as almas do manguezal. 

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Pescaria de traíras no rio Carinhanha, trecho do livro Pescador de Histórias, de Rogério Corrêa

Texto do livro Pescador de Histórias, de Rogério Corrêa 

Pescaria de traíras no rio Carinhanha

Um pescador conhecia uma fazenda no rio Carinhanha que fica na divisa de Minas Gerais com a Bahia e possui quase 6 mil alqueires de terras arenosas, quase toda improdutiva. O proprietário era um homem que morava sul e passava anos sem ir à localidade, pois tinha somente uma sede simples e algumas criações que o caseiro tomava conta.
Esse pescador insistiu com cinco amigos dele, dizendo que naquele rio tinha muitos peixes e que não precisavam levar a canoa, pois ela estava guardada lá. Esses amigos moram em Brasília e resolveram fazer a tal pescaria.
Em uma quinta-feira santa, por volta das 7 horas da noite, saíram de viagem em dois carros, e um deles era um veículo Pampa, que levava o motor, algumas caixas com bastante gelo, muitas caixas de cerveja, e as outras coisas foram em um carro de passeio
Essa fazenda não é muito longe do Distrito Federal, porém, o problema era o difícil acesso. Ao chegar em Minas Gerais não andaram muito e iniciaram o trajeto por estrada de chão. Andaram uns 80 quilômetros em uma região em que a vegetação foi mudando pouco a pouco, por ser bem árida e arenosa. Entraram em uma estrada secundária e seguiram viagem. Algum tempo depois, quem conhecia o lugar, afirmou que estava perto.
O problema começou logo após ele falar aquilo!   Realmente estava perto, porém, por ter muita areia e os carros estarem muito pesados eles não conseguiam andar sozinhos, atolavam com frequência. Foi aí que eles começaram a penar, porque uns tinham de sair dos carros para empurrar, enquanto outros dirigiam, e isso foi assim por uns quinhentos metros com cada carro, ou seja, empurravam um, depois voltavam pra empurrar o outro.
O episódio se deu em vários trechos e, para percorrerem poucos quilômetros, gastaram várias horas. Quando o dia estava amanhecendo, chegaram na tal fazenda.
O caseiro estava tirando leite para fazer um pequeno queijo, e o restante do leite era para subsistência e tratar dos cachorros. Era uma casa simples e sem energia elétrica; utilizavam lamparina para iluminar a casa. Aquele senhor e sua esposa eram sorridentes, alegres e muito prestativos, fato que os marcou.
Conversaram com ele um pouquinho e seguiram para o ponto onde a canoa estava. Ao chegarem ao local, enquanto três deles desciam tudo dos carros, os outros dois foram buscar a canoa e colocar o motor nela. Mesmo sabendo que o dia desfavorece a pescaria, os peixes com fisga acabaram levando, pois, uma pessoa precavida vale por duas. Colocaram a canoa na água, instalaram o motor e seguiram navegando em uma vereda por uns 80 metros até chegar ao rio.
O rio Carinhanha, naquele ponto, não é grande, porém tinha a água tão límpida que dava para ver o fundo de cascalho e de areia fina. Viam muitas piabas, timburés e piaus em abundância, nadando por todos lados. De início eles estavam apenas testando o motor, porém por sorte avistaram um trairão encostado perto de um tronco de árvore e eles o capturaram.
Ao chegarem com aquela traíra de uns 5 quilos, todos ficaram animados, por saberem que, se durante o dia conseguiram pescar um peixe daqueles, quanto mais a noite. Era uma traíra amarelada, diferente das que eles conheciam. Devido ao rio ter muita areia e cascalho, elas desenvolveram uma coloração mais clara. Preparam a traíra e fizeram ela toda ao molho para o café da manhã. Antes mesmo de terminarem o molho, alguns começaram a beber cerveja.
Enquanto eles limpavam o peixe, avistaram na vereda, naquela água límpida, muitas piabas e piaus. Os dois amigos resolveram pescar de anzol, só que não tinham levado iscas. Pretendiam arrancar minhocas no barranco do rio próximo à vereda. Visando uma pescaria rápida, resolveram picar um pedaço de carne de vaca em pedacinhos bem pequenos e tentar a sorte.
Cada vez que jogavam a isca dentro da água, pegavam um peixe. Fisgaram muitas piabas do rabo vermelho e alguns piaus. Resolveram mudar de lugar. Ao chegarem a um poço maior, viram que tinha muitos piau-três-pintas de tamanhos variados. Novamente jogaram o anzol na água e começaram a fisgar piaus com mais de um palmo de tamanho, um após o outro. Em menos de três horas conseguiram pegar um balde de 20 litros quase cheio, e pararam.
Mais tarde, limparam e prepararam todos aqueles peixes, temperaram alguns e fizeram aquela fritada.
Lembre-se de que era sexta-feira da paixão, naquela região estava muito quente, e eles transpiravam muito. No entanto, aquele calor todo não os incomodava, porque estavam adorando a pescaria à beira do rio e na vereda. Já tinham esquecido o quanto penaram, empurrando os carros na chegada até ali, e nem pensavam no retorno.
Após anoitecer, três dos amigos foram pescar de cilibrim e fisga. No início, eles pegaram algumas bicudas (curimatãs), depois resolveram deixar de pegá-las por estarem encontrando muitas traíras, enquanto subiam o rio. Os outros dois amigos ficaram se esbaldando no acampamento de tanto comerem peixes fritos e de tomar cervejas.
Lá pelas três e meia da madrugada, os amigos que estavam pescando retornaram para o acampamento e acordaram os outros pra ajudar a limpar os peixes e colocá-los no gelo. Ao verem a quantidade de traíras que tinham sido pescadas, um deles perguntou:
— Só tem traíra nesse rio?
— Claro que não, porém, por ser um peixe muito saboroso e a maioria delas terem de dois a cinco quilos, resolvemos pegá-las, em vez de bicudas ou piaus. Chegaram a pegar dois pacus e poucas bicudas, mas a maioria foram traíras grandes que deram para encher uma caixa de 170 litros de isopor.
Ainda bem que pegaram aquele tanto de peixes na primeira noite, porque nos outros dias começou a chover durante a tarde e a noite e não tiveram mais como pescar de fisga.
Pela manhã, os que gostavam de pescar de anzol continuaram pegando piabas e piaus na vereda e no rio. Também beberam bastante cerveja para alegrar a estadia naquele paraíso que parecia ter sido extraído do livro “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa. Uma paisagem linda, e ao mesmo tempo, um mergulho nas cruezas que o livro apresenta, foi o que me disse o amigo que me narrou essa história.
Aquelas veredas, emergindo e cortando o sertão afora, dando aquele caráter de que estavam vivendo ali há mais de cinquenta anos, sem energia elétrica, e ficando muitos meses sem ir ao povoado mais próximo, conforme dissera a eles aquele caseiro. Porém, feliz e de bem com a vida, sempre com um sorriso estampado no rosto, chamava-se Dimas, um homem simples que vivia isolado ali apenas com a esposa. Bastava conversar com ele alguns minutos, e se tinha um aprendizado de vida enorme.
Ao se ver a simplicidade e alegria do casal, sempre prestativos e com o sorriso estampado na cara, os amigos chegaram a comentar:
— O que é necessário para se viver bem e ser feliz daquele tanto?
Nesse instante as mentes devaneiam e começam a fazer várias indagações, tais como: O que é necessário para ser feliz? Se for dinheiro, porque muitos têm e não são felizes? Se for conforto, bem, ali definitivamente a noção de conforto era bem outra. Aquele casal não apenas viviam com o mínimo, eles aparentam ser muito felizes.
Partindo desse princípio, pode-se pensar que a felicidade é aceitar a vida como ela é. Ir-se vivendo como se estivesse em um barco à deriva, curtindo cada momento como se ele fosse o último. Talvez seja isso, e só. O que soaria limitante para nós seres humanos que somos expansivos. Mas, a felicidade pode ser um estado de espírito, pois aquele casal vivia como se estivessem em um oásis, gratos sempre pelos benefícios da natureza crua. De algum modo, eles vivendo isolados naquele sertão, cortado por algumas veredas, eram os senhores do lugar. E isso pode elevar a análise ao mais básico do ser humano, resumindo aquele lindo casal feliz ao arquétipo comum de “os poderosos do lugar”; o paraíso era governado por eles e somente eles.
Esses devaneios podem nos levar, inclusive, ao pensamento de que aquele casal não sente falta de outras realidades, porque eles sempre vivenciaram aquela, e não têm como sentir falta do que nunca tiveram. Senhores de sua versão de mundo, portanto. Ter um mundo só seu, com visitantes aleatórios e temporários, deve mesmo causar alguma felicidade. Mas, não teria essa felicidade apenas o decurso de cada estadia de cada visitante, indo-se embora quando esses partissem? A felicidade estava no lugar ou em quem chegava e era uma novidade? Como o casal ficaria depois, na rotina diária, um pelo outro? Seriam mesmo felizes quando a poeira dos carros assentasse?
Estou narrando esses fatos, por eles terem incomodado profundamente aquele pescador. Ele teria feito essa reflexão sobre o casal e depois sobre si mesmo e a realidade que existia fora daquele lugar. O que para ele e os amigos não passava de uma aventura, era a vida nua e crua daquele casal, talvez para sempre.
O retorno foi inevitável, e ele já via uma certa tristeza se firmando no lugar no momento da despedida. Estava certo, nem tudo era felicidade constante. Um pouco pertencia ao lugar, outro pouco a quem chegava. A partida gerava desconforto a ambos os lados. Despediram-se e pegaram a estrada.
Conforme o previsto, empurraram os carros na volta do mesmo jeito que empurraram na ida. O veículo Pampa não tinha som, mas o carro de passeio tinha um porta CD cheio. Contudo, a esposa do dono desse carro tirara os CD’s do carro e não dissera a ele. Ficara somente um CD, de Bruno & Marrone, inserido no som, com a música “Dormi na praça”, lançado em 2000, e tocou aquela música tantas vezes, durante quatro dias, que nenhum deles aguentava mais ouvi-la.
Alguns anos depois, três daqueles pescadores retornaram ao local. Contaram que pessoas do movimento Sem-terras invadiram uma fazenda do outro lado do rio e com o tempo, praticamente acabaram com os peixes da região. Mais um local que o homem conseguiu destruir em pouco tempo!


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domingo

CORONAVÍRUS FEZ COM QUE AS FESTAS DE CARROS DE BOI FOSSEM CANCELADAS

APÓS O CORONAVÍRUS TODAS AS FESTAS DE CARROS DE BOI FORAM CANCELADAS PARA EVITAR A TRANSMISSÃO DO COVID-19. POR ISSO, ESTE BLOG NÃO ESTÁ POSTANDO NOVAS FESTIVIDADES.  

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