Noiva de vestido longo e branco
Eurico contou-me uma experiência assombrosa,
acontecida durante sua juventude, época em que o sobrenatural parecia se entrelaçar
à realidade. Mesmo entre risadas nervosas e olhares céticos, o medo ganhava
vida, principalmente durante as noites escuras ou passagens em locais ermos. Era
uma época em que as pessoas mais velhas falavam muito sobre assombrações e
acontecimentos ligados ao oculto, e aquelas histórias acabavam influenciando e
legitimando o que o medo projetava em todos ao redor. Muitos contavam de
encontros com visagens ou deturpavam o que realmente acontecia.
Eurico reconhece que em alguns momentos já chegou a duvidar da existência do
sobrenatural e que o medo pode ter corrompido a sua visão. Se a visagem não foi real, o seu medo com certeza foi.
Na época, ele, um irmão e um primo, com idades
entre 14 e 17 anos, retornavam a cavalo da fazenda de um amigo, que tinha um
campo de futebol, onde costumavam ir aos domingos jogar. Eurico afirma que,
certa noite, quando voltavam para casa, eles presenciaram algo sobrenatural. A
estrada que eles passavam, ficava na propriedade do avô deles, e logo depois a
fazenda de outro tio. Era uma noite enluarada, que deixava o caminho bem claro
e dava para enxergar bem o que tinha na estrada e fora dela. Logo chegaram
próximo a uma encruzilhada em que duas estradas se encontravam. Enquanto avançavam,
o primo de Eurico notou algo incomum sobre um imponente pé de bacuri[1],
que ficava atrás de uma palmeira.
— Vocês
estão vendo aquilo lá em cima, naquele galho, lá no alto do bacuri, atrás das
folhas da palmeira? — indagou o primo, cuja voz já estava trêmula de medo.
Ao fixarem a
visão no ponto indicado, eles notaram a visão assombrosa. Havia uma mulher ali,
porém não dava pra ver com nitidez. Ao se aproximarem um pouco mais, confirmaram
que realmente era uma mulher de vestido branco, longo, que parecia ser um
vestido de noiva. Todos ficaram muito assustados, e aquele famoso arrepio na
espinha já tinha tomado conta deles. Não era normal ver alguém durante a noite
em cima de uma árvore daquela altura.
Eles pararam
os cavalos e ficaram observando, a uma distância segura, a assombração. A noiva
desceu da árvore tão rapidamente que parecia ter pulado lá de cima. Não tinha
como um ser humano descer tão rápido de árvore daquela altura, e, mesmo com
bastante medo, eles ficaram observando. A noiva seguiu com o seu vestido longo
em direção ao mandiocal de seu avô, a menos de 100 metros, passando por uma
cerca de arame farpado, dessas com oito fios de arame bem justinhos, coisa que
uma pessoa viva dificilmente faria, pois corria sério risco de se machucar ou
ficar preso nas farpas.
Os rapazes, embora temerosos, decidiram seguir
o fantasma. Desmontando de seus cavalos, mantiveram distância, atentos enquanto
a noiva prosseguia na pequena trilha do lado de um cafezal, em direção à casa
de seu tio, que ficava bem próximo. Ao se aproximar de uma capela antiga, a
noiva desapareceu diante dos olhos incrédulos deles, passando pela porta da
capela que estava fechada. Latidos dos cães guardiãs ressoaram na noite. Ao avistar
os sobrinhos, o tido deles foi ver o que estava acontecendo. Eles entraram para
a casa e contaram o que tinha acontecido. De acordo com o tio deles, outra
pessoa já tinha visto a noiva de vestido
longo e branco, em certa noite,
há muitos anos.
Essa história
foi passada de geração em geração, desde a época do bisavô daqueles jovens.
Fora esse bisavô quem construíra o casarão e a capela para serem realizadas
missas e novenas em ocasiões especiais. Contudo, além da confirmação do tio
deles de que alguém já tinha visto a mulher, mais ninguém vira, e as pessoas da
região achavam que era invenção dos rapazes.
Para conhecer o livro acesse o link abaixo:
[1]
Bacuri é uma árvore frutífera que pode atingir até 25 metros, a depender da
região e qualidade da terra.