Texto do livro Histórias do além (assombrações, experiências sobrenaturais, visagens, tesouros, ...):
O jeito foi mudar a casa de lugar!
Há muito tempo aconteceu algo assustador a um casal de irmãos. Naquela época uma moça e seu irmão moravam em uma antiga casa, numa fazenda que herdaram dos pais, que
por sua vez, haviam herdado dos pais, avós desses irmãos.
Geralmente as
fazendas eram afastadas (ainda são) umas das outras, e na maioria das vezes os
rapazes namoravam filhas dos vizinhos, para não terem de se locomoverem para
tão longe, e o cavalo, era o principal meio de transporte.
Em um dia atípico, de
tardezinha a moça começou a sentir uns arrepios estranhos e decidiu ir à casa
da vizinha para não ficar sozinha, porque o seu irmão tinha ido a cavalo
distante dali, para namorar.
A vizinha era muito
pobre e tinha vários filhos. Prosearam, jantaram, e lá pelas 8 horas o filho
mais velho chegou com alguns primos para dormirem na casa. A moça assustada,
tinha pensado em dormir na vizinha, porém, não teve como, porque as camas eram
insuficientes para todos.
Em cada uma das camas
já iria dormir mais de uma pessoa, então, ela retornou sozinha para sua casa,
naquela noite escura, e preparou a cama para dormir.
Naquele tempo não
tinha energia elétrica nas fazendas, só lamparinas e candeias. De repente, algo
deu um puxão em sua coberta. Ela acendeu a lamparina e não viu nada. Aumentou o
pavio para iluminar mais, conferiu todas as tramelas[1]
das portas e janelas para ver se estavam bem fechadas, também olhou debaixo das
camas.
Depois de procurar
bastante e não encontrar nada, tornou a sentir os arrepios e bateu aquele medo
danado. Mas, pensou que poderia ser um rato e ele tinha se escondido no
assoalho, então resolveu voltar para a cama, apagou a lamparina.
Passou-se um
tempinho, e algo deu novo puxão em sua coberta. A moça novamente acendeu a
lamparina, olhou, e nada viu.
O medo já tinha
tomado conta dela, então, dessa vez, deixou a lamparina acessa mais tempo,
pensando que o seu irmão chegaria rápido. Mas, não chegou.
Outra vez apagou a
lamparina, e, depois de um longo tempo, a coberta da cama foi puxada outra vez,
mas, com tanta força, que foi parar no outro canto do quarto.
A moça disse que só
não morreu, porque seu coração devia estar muito saudável. Ficou tão apavorada,
e, como dormir estava fora de questão, resolveu sair de dentro de casa e
aguardar o retorno do seu irmão do lado de fora.
Não demorou muito, e
escutou, ao longe o galopar do cavalo vindo em sua direção. Gritou o nome do irmão
e ele respondeu. Ele quis saber os motivos dela não estar dormindo, e ela
contou o que tinha acontecido. Ele sorriu muito, e disse que era tudo coisa da
cabeça dela, já que nunca tinha sucedido algo daquela natureza na fazenda ou
vizinhança.
Mas, a moça estava
tão assombrada, e o susto tinha sido tal que ela teve de dormir com o irmão,
todavia, naquela noite não houve mais incidentes.
No dia seguinte a
moça disse ao irmão que não dormiria mais na casa, e, preparou suas roupas e as
colocou em uma mala, despediu-se do irmão e seguiu para a estrada de terra por
onde um ônibus passaria pela manhã, em direção à cidade mais próxima. Iria para
a casa de familiares.
Contudo, o irmão não
quis acreditar naquilo que lhe pareceram supostas assombrações sofridas pela
irmã, e ficou sozinho na casa.
Alguns dias se
passaram, e aconteceram coisas bem piores com ele: tomaram a coberta, escutou
rinchados, gritos e latidos dentro da casa, e, quando acendia a lamparina não
via nada. O medo foi tão grande que na mesma noite ele saiu da casa e foi
dormir na fazenda do pai de sua namorada.
Ao chegar lá na
fazenda contou a eles o que aconteceu à sua irmã e a ele. O assunto foi
largamente discutido e os mais entendidos lhe aconselharam: “O jeito é mudar a
casa de lugar!”
Nos dias que se
seguiram permanecia na propriedade até a tarde, e, antes do anoitecer seguia
para a fazenda da namorada. Ao mesmo tempo avisava os amigos que iria fazer um
mutirão para desmanchar a casa.
Poucos dias depois
desmancharam a casa e fizeram outra próxima à estrada e a um pequeno córrego.
Apesar de haverem mudado a casa de lugar, a moça ficou com tanto receio de dormir na casa, que pouco se lhe dava terem-na mudado de lugar. Nunca mais voltou lá para pernoitar. Contudo, o irmão dela permaneceu lá, e, felizmente, o que quer que houvesse de mal-assombrado, não acompanhou a casa na mudança, e o rapaz pôde dormir em paz.
[1]Tramela: é uma espécie de tranca para portas e
janelas de madeira, que é feita com um pedaço de madeira resistente, com um
furo no centro. Ela é pregada no batente das portas e janelas, de tal modo que
pode ser girada para trancar ou destrancar.
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