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terça-feira

Pescaria de traíras no rio Carinhanha, trecho do livro Pescador de Histórias, de Rogério Corrêa

Texto do livro Pescador de Histórias, de Rogério Corrêa 

Pescaria de traíras no rio Carinhanha

Um pescador conhecia uma fazenda no rio Carinhanha que fica na divisa de Minas Gerais com a Bahia e possui quase 6 mil alqueires de terras arenosas, quase toda improdutiva. O proprietário era um homem que morava sul e passava anos sem ir à localidade, pois tinha somente uma sede simples e algumas criações que o caseiro tomava conta.
Esse pescador insistiu com cinco amigos dele, dizendo que naquele rio tinha muitos peixes e que não precisavam levar a canoa, pois ela estava guardada lá. Esses amigos moram em Brasília e resolveram fazer a tal pescaria.
Em uma quinta-feira santa, por volta das 7 horas da noite, saíram de viagem em dois carros, e um deles era um veículo Pampa, que levava o motor, algumas caixas com bastante gelo, muitas caixas de cerveja, e as outras coisas foram em um carro de passeio
Essa fazenda não é muito longe do Distrito Federal, porém, o problema era o difícil acesso. Ao chegar em Minas Gerais não andaram muito e iniciaram o trajeto por estrada de chão. Andaram uns 80 quilômetros em uma região em que a vegetação foi mudando pouco a pouco, por ser bem árida e arenosa. Entraram em uma estrada secundária e seguiram viagem. Algum tempo depois, quem conhecia o lugar, afirmou que estava perto.
O problema começou logo após ele falar aquilo!   Realmente estava perto, porém, por ter muita areia e os carros estarem muito pesados eles não conseguiam andar sozinhos, atolavam com frequência. Foi aí que eles começaram a penar, porque uns tinham de sair dos carros para empurrar, enquanto outros dirigiam, e isso foi assim por uns quinhentos metros com cada carro, ou seja, empurravam um, depois voltavam pra empurrar o outro.
O episódio se deu em vários trechos e, para percorrerem poucos quilômetros, gastaram várias horas. Quando o dia estava amanhecendo, chegaram na tal fazenda.
O caseiro estava tirando leite para fazer um pequeno queijo, e o restante do leite era para subsistência e tratar dos cachorros. Era uma casa simples e sem energia elétrica; utilizavam lamparina para iluminar a casa. Aquele senhor e sua esposa eram sorridentes, alegres e muito prestativos, fato que os marcou.
Conversaram com ele um pouquinho e seguiram para o ponto onde a canoa estava. Ao chegarem ao local, enquanto três deles desciam tudo dos carros, os outros dois foram buscar a canoa e colocar o motor nela. Mesmo sabendo que o dia desfavorece a pescaria, os peixes com fisga acabaram levando, pois, uma pessoa precavida vale por duas. Colocaram a canoa na água, instalaram o motor e seguiram navegando em uma vereda por uns 80 metros até chegar ao rio.
O rio Carinhanha, naquele ponto, não é grande, porém tinha a água tão límpida que dava para ver o fundo de cascalho e de areia fina. Viam muitas piabas, timburés e piaus em abundância, nadando por todos lados. De início eles estavam apenas testando o motor, porém por sorte avistaram um trairão encostado perto de um tronco de árvore e eles o capturaram.
Ao chegarem com aquela traíra de uns 5 quilos, todos ficaram animados, por saberem que, se durante o dia conseguiram pescar um peixe daqueles, quanto mais a noite. Era uma traíra amarelada, diferente das que eles conheciam. Devido ao rio ter muita areia e cascalho, elas desenvolveram uma coloração mais clara. Preparam a traíra e fizeram ela toda ao molho para o café da manhã. Antes mesmo de terminarem o molho, alguns começaram a beber cerveja.
Enquanto eles limpavam o peixe, avistaram na vereda, naquela água límpida, muitas piabas e piaus. Os dois amigos resolveram pescar de anzol, só que não tinham levado iscas. Pretendiam arrancar minhocas no barranco do rio próximo à vereda. Visando uma pescaria rápida, resolveram picar um pedaço de carne de vaca em pedacinhos bem pequenos e tentar a sorte.
Cada vez que jogavam a isca dentro da água, pegavam um peixe. Fisgaram muitas piabas do rabo vermelho e alguns piaus. Resolveram mudar de lugar. Ao chegarem a um poço maior, viram que tinha muitos piau-três-pintas de tamanhos variados. Novamente jogaram o anzol na água e começaram a fisgar piaus com mais de um palmo de tamanho, um após o outro. Em menos de três horas conseguiram pegar um balde de 20 litros quase cheio, e pararam.
Mais tarde, limparam e prepararam todos aqueles peixes, temperaram alguns e fizeram aquela fritada.
Lembre-se de que era sexta-feira da paixão, naquela região estava muito quente, e eles transpiravam muito. No entanto, aquele calor todo não os incomodava, porque estavam adorando a pescaria à beira do rio e na vereda. Já tinham esquecido o quanto penaram, empurrando os carros na chegada até ali, e nem pensavam no retorno.
Após anoitecer, três dos amigos foram pescar de cilibrim e fisga. No início, eles pegaram algumas bicudas (curimatãs), depois resolveram deixar de pegá-las por estarem encontrando muitas traíras, enquanto subiam o rio. Os outros dois amigos ficaram se esbaldando no acampamento de tanto comerem peixes fritos e de tomar cervejas.
Lá pelas três e meia da madrugada, os amigos que estavam pescando retornaram para o acampamento e acordaram os outros pra ajudar a limpar os peixes e colocá-los no gelo. Ao verem a quantidade de traíras que tinham sido pescadas, um deles perguntou:
— Só tem traíra nesse rio?
— Claro que não, porém, por ser um peixe muito saboroso e a maioria delas terem de dois a cinco quilos, resolvemos pegá-las, em vez de bicudas ou piaus. Chegaram a pegar dois pacus e poucas bicudas, mas a maioria foram traíras grandes que deram para encher uma caixa de 170 litros de isopor.
Ainda bem que pegaram aquele tanto de peixes na primeira noite, porque nos outros dias começou a chover durante a tarde e a noite e não tiveram mais como pescar de fisga.
Pela manhã, os que gostavam de pescar de anzol continuaram pegando piabas e piaus na vereda e no rio. Também beberam bastante cerveja para alegrar a estadia naquele paraíso que parecia ter sido extraído do livro “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa. Uma paisagem linda, e ao mesmo tempo, um mergulho nas cruezas que o livro apresenta, foi o que me disse o amigo que me narrou essa história.
Aquelas veredas, emergindo e cortando o sertão afora, dando aquele caráter de que estavam vivendo ali há mais de cinquenta anos, sem energia elétrica, e ficando muitos meses sem ir ao povoado mais próximo, conforme dissera a eles aquele caseiro. Porém, feliz e de bem com a vida, sempre com um sorriso estampado no rosto, chamava-se Dimas, um homem simples que vivia isolado ali apenas com a esposa. Bastava conversar com ele alguns minutos, e se tinha um aprendizado de vida enorme.
Ao se ver a simplicidade e alegria do casal, sempre prestativos e com o sorriso estampado na cara, os amigos chegaram a comentar:
— O que é necessário para se viver bem e ser feliz daquele tanto?
Nesse instante as mentes devaneiam e começam a fazer várias indagações, tais como: O que é necessário para ser feliz? Se for dinheiro, porque muitos têm e não são felizes? Se for conforto, bem, ali definitivamente a noção de conforto era bem outra. Aquele casal não apenas viviam com o mínimo, eles aparentam ser muito felizes.
Partindo desse princípio, pode-se pensar que a felicidade é aceitar a vida como ela é. Ir-se vivendo como se estivesse em um barco à deriva, curtindo cada momento como se ele fosse o último. Talvez seja isso, e só. O que soaria limitante para nós seres humanos que somos expansivos. Mas, a felicidade pode ser um estado de espírito, pois aquele casal vivia como se estivessem em um oásis, gratos sempre pelos benefícios da natureza crua. De algum modo, eles vivendo isolados naquele sertão, cortado por algumas veredas, eram os senhores do lugar. E isso pode elevar a análise ao mais básico do ser humano, resumindo aquele lindo casal feliz ao arquétipo comum de “os poderosos do lugar”; o paraíso era governado por eles e somente eles.
Esses devaneios podem nos levar, inclusive, ao pensamento de que aquele casal não sente falta de outras realidades, porque eles sempre vivenciaram aquela, e não têm como sentir falta do que nunca tiveram. Senhores de sua versão de mundo, portanto. Ter um mundo só seu, com visitantes aleatórios e temporários, deve mesmo causar alguma felicidade. Mas, não teria essa felicidade apenas o decurso de cada estadia de cada visitante, indo-se embora quando esses partissem? A felicidade estava no lugar ou em quem chegava e era uma novidade? Como o casal ficaria depois, na rotina diária, um pelo outro? Seriam mesmo felizes quando a poeira dos carros assentasse?
Estou narrando esses fatos, por eles terem incomodado profundamente aquele pescador. Ele teria feito essa reflexão sobre o casal e depois sobre si mesmo e a realidade que existia fora daquele lugar. O que para ele e os amigos não passava de uma aventura, era a vida nua e crua daquele casal, talvez para sempre.
O retorno foi inevitável, e ele já via uma certa tristeza se firmando no lugar no momento da despedida. Estava certo, nem tudo era felicidade constante. Um pouco pertencia ao lugar, outro pouco a quem chegava. A partida gerava desconforto a ambos os lados. Despediram-se e pegaram a estrada.
Conforme o previsto, empurraram os carros na volta do mesmo jeito que empurraram na ida. O veículo Pampa não tinha som, mas o carro de passeio tinha um porta CD cheio. Contudo, a esposa do dono desse carro tirara os CD’s do carro e não dissera a ele. Ficara somente um CD, de Bruno & Marrone, inserido no som, com a música “Dormi na praça”, lançado em 2000, e tocou aquela música tantas vezes, durante quatro dias, que nenhum deles aguentava mais ouvi-la.
Alguns anos depois, três daqueles pescadores retornaram ao local. Contaram que pessoas do movimento Sem-terras invadiram uma fazenda do outro lado do rio e com o tempo, praticamente acabaram com os peixes da região. Mais um local que o homem conseguiu destruir em pouco tempo!


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A folha e eu, texto de Maria Montillarez

Texto de Maria Montillarez
A folha e eu

       Tempos estes! Tudo que dizemos pode se virar contra nós em mecanismos de redes sociais. É a agonia da coisa dita. A agonia de se viver as palavras que se encadeiam, sem antes filosofar os prós e
os contras delas; verificar se sobrevivem e como possam sobreviver aos crivos mais diversos. Tal qual a Bíblia, pra correr menos risco de afetar o inimaginável, é preciso ser genérico. E se o pensamento for se expandindo em generalidades vai acabar virando antibiótico mental. O escritor desde sempre é martelado pelo que disse ou deixou de dizer, e num desvão ainda cabe o que estaria em certas entrelinhas, um sutil “buraco de minhoca”. Diga, da mais rebuscada à simples frase; escreva um verso. Não há de escapar à malha. Sujeita a toda sorte de subjetividades interpretativas, de uma delas suplico isenção. Aquela em que me tomem por saudosista. Nem vá manipular disso uma crítica a quem o seja. Todos são aquilo que são, não ouso criticar. Apenas eu não sou alguém que se apega à saudade e vai-se deixando invadir por ela de modo a todo o presente se desfazer no ontem, no anteontem, dia desses, ano passado... Fixei-me no hoje, especialmente no agora, neste segundo. Opa!, e a próxima fração de tempo já me resgata e me põe a galope dentro do futuro. Abro os braços e me deixo levar pelo frescor da cavalgada. Nesse espaço eu me deleito em uma tranquilidade sem dívidas. Não há nada a reclamar ou reparar. Dei o melhor de mim. Nalgum momento posso ter sido medíocre. Desagradei até a mim mesma. Ficou isso por aquilo e nada mais restou a cerzir.
Contudo, nos entrementes da vida, vejo que há na árvore uma folha que se amarelou e negou-se a cair. Fica ali, chamando a minha atenção. Ela deve à árvore ou a árvore deve a ela? Essa pergunta tirou-me de meu habitual estado de agora. Aquela folha que não quis cair, transformou-se, rapidamente, em uma lembrança dentro de mim que também se fixou. O calendário marca segunda-feira. Havia muitas segundas-feiras que eu avistava aquela folha teimosa, meio amarelada, como a maioria dos materiais sujeitos ao tempo. Até nossa pele, vejo eu, ganha tom desbotado. Ali estava a folha, que por algum motivo não caía. Havia chovido muito ultimamente, e ventado. Ela permanecera presa. Eu pensei que se eu tocasse nela, com um mínimo de esforço, desgarrá-la-ia de sua insistência prejudicial à árvore. Pensei que se ela não desocupasse espaço, outra folha viçosa estaria impedida de nascer. Felizmente não ocorre assim com seres humanos. Nascemos despreocupados de se há ou não espaço. Deve ser por isso que acabamos nos amontoando em espaços exíguos e nos enfileirando em eterno reclamar dos senãos de nossa absoluta falta de ser árvore. Tem ali, no mundo árvore, alguma espécie de planejamento, e tudo que não é mais digno e salutar para a árvore vai descendo ao chão, viajando pelo ar, rebrotando ou adubando. Tudo no mundo árvore possui destino claro. O mundo humano tem mais imprevisibilidades do que toda a população árvore do mundo da história das árvores. Impossível ponderar o humano. Em demasiada presunção, cogitei que o planejamento daquela folha era o de me atingir, enquanto organismo individualista que me tornei, incapaz do coletivo, este entrelaçado ao anteontem, às segundas-feiras que invariavelmente me chegavam cartas suas. Desde o Norte ao Centro-Oeste as cartas demoravam pontualmente sete dias para chegarem às minhas mãos. Com brevidade eu as respondia, e eram outros sete dias de viagem até as suas mãos. Construímos, de cada lado, grande chumaço de relatos de felicidades e de angústias divididas. Compartilhamos nossos sonhos e nossos medos. Com o passar do tempo ¾ estar presa no presente é trauma? ¾ as cartas de ambos os lados rarearam. E as redes sociais chegaram para extingui-las. E sepultamo-las de vez, na agonia das coisas ditas. Na agonia de se viver cada palavra que se encadeava de supetão, naquela simplicidade da crença de nenhum mal-entendido e filosofias rasas. A filosofia vem de pensamentos profundos, remoídos, revisitados, tão depurados que nada cause de impacto ao coração. A filosofia pode ser um concerto para a alma, mas entregar sua verdade a alguém é um concerto para o coração. O instante em que a coisa dita se torna a agonia de ter de ser explicada, pois em si mesma tornou-se insuficiente ou demasiada; se, por seu turno, necessita de medidas para sobreviver ao crivo, tal qual a Bíblia, o antibiótico de amplo espectro, a fim de correr menos risco de afetar o inimaginável, e ser martelado pelo que disse ou deixou de dizer, e, num desvão, ainda cabendo o que estaria em supostas entrelinhas, um sutil “buraco de minhoca”... A folha da árvore, de repente, despencou. Foi como um click. As cartas haviam parado e as redes sociais invadido o mundo, asfixiando a ternura de enviar cartas, frustrando a espera pela resposta delas, que jamais, jamais outra vez chegariam. As redes sociais invadiram o mundo, e é importante não ser saudosista, porque ser saudosista é admitir-se folha amarelada. Melhor se recompor no agora.

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sábado

Almas perdidas: texto do livro Histórias do além (assombrações, experiências sobrenaturais, visagens, tesouros, ...), de Rogério Corrêa


Almas perdidas

Carlos, 49 anos, quando era jovem foi visitar um parente que morava em uma fazenda daquelas bem antigas que todas as portas, janelas e assoalho eram de madeira.

Enquanto aguardavam preparar o jantar feito no fogão à lenha e panelas de ferro, escutava os mais velhos prosearem. Jantaram, e mais tarde ele seguiu para um quarto que ficava próximo à porta da sala.
Na época não havia energia elétrica, apenas lamparina e um lampião na cozinha. Se deitou e alguns minutos depois, quando estava quase dormindo, ouviu o barulho da porta do seu quarto se abrindo. Perguntou quem estava ali e nada foi respondido. Acendeu a lamparina e percebeu que a porta estava fechada.
Algum tempo depois apagou o fogo da lamparina e tentou dormir. Novamente ouviu outro barulho da porta se abrindo. Começou a sentir alguns arrepios pelo corpo e o medo se apossou dele.  Acendeu a lamparina e mesmo com ela acessa escutou o barulho da porta se abrindo, só que ela continuava fechada. Carlos ficou tão apavorado que para conseguir dormir teve que mudar de quarto.
Questionei sobre o tal barulho e o que ele achava que fosse. Respondeu que nunca foi medroso e não acreditava em muitas coisas que os outros contavam. Porém, se lembrava bem do que ouvira, o quanto ficara aterrorizado e que aqueles arrepios não eram coisa normal. Achava que os barulhos foram feitos por almas perdidas que gostam de caçoar dos outros.


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Pescaria de traíras no rio Carinhanha, trecho do livro Pescador de Histórias, de Rogério Corrêa

Pescaria de traíras no rio Carinhanha

Um pescador conhecia uma fazenda no rio Carinhanha que fica na divisa de Minas Gerais com a Bahia e possui quase 6 mil alqueires de terras arenosas, quase toda improdutiva. O proprietário era um homem que morava sul e passava anos sem ir à localidade, pois tinha somente uma sede simples e algumas criações que o caseiro tomava conta.
Esse pescador insistiu com cinco amigos dele, dizendo que naquele rio tinha muitos peixes e que não precisavam levar a canoa, pois ela estava guardada lá. Esses amigos moram em Brasília e resolveram fazer a tal pescaria.
Em uma quinta-feira santa, por volta das 7 horas da noite, saíram de viagem em dois carros, e um deles era um veículo Pampa, que levava o motor, algumas caixas com bastante gelo, muitas caixas de cerveja, e as outras coisas foram em um carro de passeio
Essa fazenda não é muito longe do Distrito Federal, porém, o problema era o difícil acesso. Ao chegar em Minas Gerais não andaram muito e iniciaram o trajeto por estrada de chão. Andaram uns 80 quilômetros em uma região em que a vegetação foi mudando pouco a pouco, por ser bem árida e arenosa. Entraram em uma estrada secundária e seguiram viagem. Algum tempo depois, quem conhecia o lugar, afirmou que estava perto.
O problema começou logo após ele falar aquilo!   Realmente estava perto, porém, por ter muita areia e os carros estarem muito pesados eles não conseguiam andar sozinhos, atolavam com frequência. Foi aí que eles começaram a penar, porque uns tinham de sair dos carros para empurrar, enquanto outros dirigiam, e isso foi assim por uns quinhentos metros com cada carro, ou seja, empurravam um, depois voltavam pra empurrar o outro.
O episódio se deu em vários trechos e, para percorrerem poucos quilômetros, gastaram várias horas. Quando o dia estava amanhecendo, chegaram na tal fazenda.
O caseiro estava tirando leite para fazer um pequeno queijo, e o restante do leite era para subsistência e tratar dos cachorros. Era uma casa simples e sem energia elétrica; utilizavam lamparina para iluminar a casa. Aquele senhor e sua esposa eram sorridentes, alegres e muito prestativos, fato que os marcou.
Conversaram com ele um pouquinho e seguiram para o ponto onde a canoa estava. Ao chegarem ao local, enquanto três deles desciam tudo dos carros, os outros dois foram buscar a canoa e colocar o motor nela. Mesmo sabendo que o dia desfavorece a pescaria, os peixes com fisga acabaram levando, pois, uma pessoa precavida vale por duas. Colocaram a canoa na água, instalaram o motor e seguiram navegando em uma vereda por uns 80 metros até chegar ao rio.
O rio Carinhanha, naquele ponto, não é grande, porém tinha a água tão límpida que dava para ver o fundo de cascalho e de areia fina. Viam muitas piabas, timburés e piaus em abundância, nadando por todos lados. De início eles estavam apenas testando o motor, porém por sorte avistaram um trairão encostado perto de um tronco de árvore e eles o capturaram.
Ao chegarem com aquela traíra de uns 5 quilos, todos ficaram animados, por saberem que, se durante o dia conseguiram pescar um peixe daqueles, quanto mais a noite. Era uma traíra amarelada, diferente das que eles conheciam. Devido ao rio ter muita areia e cascalho, elas desenvolveram uma coloração mais clara. Preparam a traíra e fizeram ela toda ao molho para o café da manhã. Antes mesmo de terminarem o molho, alguns começaram a beber cerveja.
Enquanto eles limpavam o peixe, avistaram na vereda, naquela água límpida, muitas piabas e piaus. Os dois amigos resolveram pescar de anzol, só que não tinham levado iscas. Pretendiam arrancar minhocas no barranco do rio próximo à vereda. Visando uma pescaria rápida, resolveram picar um pedaço de carne de vaca em pedacinhos bem pequenos e tentar a sorte.
Cada vez que jogavam a isca dentro da água, pegavam um peixe. Fisgaram muitas piabas do rabo vermelho e alguns piaus. Resolveram mudar de lugar. Ao chegarem a um poço maior, viram que tinha muitos piau-três-pintas de tamanhos variados. Novamente jogaram o anzol na água e começaram a fisgar piaus com mais de um palmo de tamanho, um após o outro. Em menos de três horas conseguiram pegar um balde de 20 litros quase cheio, e pararam.
Mais tarde, limparam e prepararam todos aqueles peixes, temperaram alguns e fizeram aquela fritada.
Lembre-se de que era sexta-feira da paixão, naquela região estava muito quente, e eles transpiravam muito. No entanto, aquele calor todo não os incomodava, porque estavam adorando a pescaria à beira do rio e na vereda. Já tinham esquecido o quanto penaram, empurrando os carros na chegada até ali, e nem pensavam no retorno.
Após anoitecer, três dos amigos foram pescar de cilibrim e fisga. No início, eles pegaram algumas bicudas (curimatãs), depois resolveram deixar de pegá-las por estarem encontrando muitas traíras, enquanto subiam o rio. Os outros dois amigos ficaram se esbaldando no acampamento de tanto comerem peixes fritos e de tomar cervejas.
Lá pelas três e meia da madrugada, os amigos que estavam pescando retornaram para o acampamento e acordaram os outros pra ajudar a limpar os peixes e colocá-los no gelo. Ao verem a quantidade de traíras que tinham sido pescadas, um deles perguntou:
— Só tem traíra nesse rio?
— Claro que não, porém, por ser um peixe muito saboroso e a maioria delas terem de dois a cinco quilos, resolvemos pegá-las, em vez de bicudas ou piaus. Chegaram a pegar dois pacus e poucas bicudas, mas a maioria foram traíras grandes que deram para encher uma caixa de 170 litros de isopor.
Ainda bem que pegaram aquele tanto de peixes na primeira noite, porque nos outros dias começou a chover durante a tarde e a noite e não tiveram mais como pescar de fisga.
Pela manhã, os que gostavam de pescar de anzol continuaram pegando piabas e piaus na vereda e no rio. Também beberam bastante cerveja para alegrar a estadia naquele paraíso que parecia ter sido extraído do livro “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa. Uma paisagem linda, e ao mesmo tempo, um mergulho nas cruezas que o livro apresenta, foi o que me disse o amigo que me narrou essa história.
Aquelas veredas, emergindo e cortando o sertão afora, dando aquele caráter de que estavam vivendo ali há mais de cinquenta anos, sem energia elétrica, e ficando muitos meses sem ir ao povoado mais próximo, conforme dissera a eles aquele caseiro. Porém, feliz e de bem com a vida, sempre com um sorriso estampado no rosto, chamava-se Dimas, um homem simples que vivia isolado ali apenas com a esposa. Bastava conversar com ele alguns minutos, e se tinha um aprendizado de vida enorme.
Ao se ver a simplicidade e alegria do casal, sempre prestativos e com o sorriso estampado na cara, os amigos chegaram a comentar:
— O que é necessário para se viver bem e ser feliz daquele tanto?
Nesse instante as mentes devaneiam e começam a fazer várias indagações, tais como: O que é necessário para ser feliz? Se for dinheiro, porque muitos têm e não são felizes? Se for conforto, bem, ali definitivamente a noção de conforto era bem outra. Aquele casal não apenas viviam com o mínimo, eles aparentam ser muito felizes.
Partindo desse princípio, pode-se pensar que a felicidade é aceitar a vida como ela é. Ir-se vivendo como se estivesse em um barco à deriva, curtindo cada momento como se ele fosse o último. Talvez seja isso, e só. O que soaria limitante para nós seres humanos que somos expansivos. Mas, a felicidade pode ser um estado de espírito, pois aquele casal vivia como se estivessem em um oásis, gratos sempre pelos benefícios da natureza crua. De algum modo, eles vivendo isolados naquele sertão, cortado por algumas veredas, eram os senhores do lugar. E isso pode elevar a análise ao mais básico do ser humano, resumindo aquele lindo casal feliz ao arquétipo comum de “os poderosos do lugar”; o paraíso era governado por eles e somente eles.
Esses devaneios podem nos levar, inclusive, ao pensamento de que aquele casal não sente falta de outras realidades, porque eles sempre vivenciaram aquela, e não têm como sentir falta do que nunca tiveram. Senhores de sua versão de mundo, portanto. Ter um mundo só seu, com visitantes aleatórios e temporários, deve mesmo causar alguma felicidade. Mas, não teria essa felicidade apenas o decurso de cada estadia de cada visitante, indo-se embora quando esses partissem? A felicidade estava no lugar ou em quem chegava e era uma novidade? Como o casal ficaria depois, na rotina diária, um pelo outro? Seriam mesmo felizes quando a poeira dos carros assentasse?
Estou narrando esses fatos, por eles terem incomodado profundamente aquele pescador. Ele teria feito essa reflexão sobre o casal e depois sobre si mesmo e a realidade que existia fora daquele lugar. O que para ele e os amigos não passava de uma aventura, era a vida nua e crua daquele casal, talvez para sempre.
O retorno foi inevitável, e ele já via uma certa tristeza se firmando no lugar no momento da despedida. Estava certo, nem tudo era felicidade constante. Um pouco pertencia ao lugar, outro pouco a quem chegava. A partida gerava desconforto a ambos os lados. Despediram-se e pegaram a estrada.
Conforme o previsto, empurraram os carros na volta do mesmo jeito que empurraram na ida. O veículo Pampa não tinha som, mas o carro de passeio tinha um porta CD cheio. Contudo, a esposa do dono desse carro tirara os CD’s do carro e não dissera a ele. Ficara somente um CD, de Bruno & Marrone, inserido no som, com a música “Dormi na praça”, lançado em 2000, e tocou aquela música tantas vezes, durante quatro dias, que nenhum deles aguentava mais ouvi-la.
Alguns anos depois, três daqueles pescadores retornaram ao local. Contaram que pessoas do movimento Sem-terras invadiram uma fazenda do outro lado do rio e com o tempo, praticamente acabaram com os peixes da região. Mais um local que o homem conseguiu destruir em pouco tempo!


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terça-feira

Almas perdidas: texto do livro Histórias do além (assombrações, experiências sobrenaturais, visagens, tesouros, ...), de Rogério Corrêa


Almas perdidas

Carlos, 49 anos, quando era jovem foi visitar um parente que morava em uma fazenda daquelas bem antigas que todas as portas, janelas e assoalho eram de madeira.

Enquanto aguardavam preparar o jantar feito no fogão à lenha e panelas de ferro, escutava os mais velhos prosearem. Jantaram, e mais tarde ele seguiu para um quarto que ficava próximo à porta da sala.
Na época não havia energia elétrica, apenas lamparina e um lampião na cozinha. Se deitou e alguns minutos depois, quando estava quase dormindo, ouviu o barulho da porta do seu quarto se abrindo. Perguntou quem estava ali e nada foi respondido. Acendeu a lamparina e percebeu que a porta estava fechada.
Algum tempo depois apagou o fogo da lamparina e tentou dormir. Novamente ouviu outro barulho da porta se abrindo. Começou a sentir alguns arrepios pelo corpo e o medo se apossou dele.  Acendeu a lamparina e mesmo com ela acessa escutou o barulho da porta se abrindo, só que ela continuava fechada. Carlos ficou tão apavorado que para conseguir dormir teve que mudar de quarto.
Questionei sobre o tal barulho e o que ele achava que fosse. Respondeu que nunca foi medroso e não acreditava em muitas coisas que os outros contavam. Porém, se lembrava bem do que ouvira, o quanto ficara aterrorizado e que aqueles arrepios não eram coisa normal. Achava que os barulhos foram feitos por almas perdidas que gostam de caçoar dos outros.


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quinta-feira

Pescaria de traíras no rio Carinhanha, trecho do livro Pescador de Histórias, de Rogério Corrêa

Pescaria de traíras no rio Carinhanha

Um pescador conhecia uma fazenda no rio Carinhanha que fica na divisa de Minas Gerais com a Bahia e possui quase 6 mil alqueires de terras arenosas, quase toda improdutiva. O proprietário era um homem que morava sul e passava anos sem ir à localidade, pois tinha somente uma sede simples e algumas criações que o caseiro tomava conta.
Esse pescador insistiu com cinco amigos dele, dizendo que naquele rio tinha muitos peixes e que não precisavam levar a canoa, pois ela estava guardada lá. Esses amigos moram em Brasília e resolveram fazer a tal pescaria.
Em uma quinta-feira santa, por volta das 7 horas da noite, saíram de viagem em dois carros, e um deles era um veículo Pampa, que levava o motor, algumas caixas com bastante gelo, muitas caixas de cerveja, e as outras coisas foram em um carro de passeio
Essa fazenda não é muito longe do Distrito Federal, porém, o problema era o difícil acesso. Ao chegar em Minas Gerais não andaram muito e iniciaram o trajeto por estrada de chão. Andaram uns 80 quilômetros em uma região em que a vegetação foi mudando pouco a pouco, por ser bem árida e arenosa. Entraram em uma estrada secundária e seguiram viagem. Algum tempo depois, quem conhecia o lugar, afirmou que estava perto.
O problema começou logo após ele falar aquilo!   Realmente estava perto, porém, por ter muita areia e os carros estarem muito pesados eles não conseguiam andar sozinhos, atolavam com frequência. Foi aí que eles começaram a penar, porque uns tinham de sair dos carros para empurrar, enquanto outros dirigiam, e isso foi assim por uns quinhentos metros com cada carro, ou seja, empurravam um, depois voltavam pra empurrar o outro.
O episódio se deu em vários trechos e, para percorrerem poucos quilômetros, gastaram várias horas. Quando o dia estava amanhecendo, chegaram na tal fazenda.
O caseiro estava tirando leite para fazer um pequeno queijo, e o restante do leite era para subsistência e tratar dos cachorros. Era uma casa simples e sem energia elétrica; utilizavam lamparina para iluminar a casa. Aquele senhor e sua esposa eram sorridentes, alegres e muito prestativos, fato que os marcou.
Conversaram com ele um pouquinho e seguiram para o ponto onde a canoa estava. Ao chegarem ao local, enquanto três deles desciam tudo dos carros, os outros dois foram buscar a canoa e colocar o motor nela. Mesmo sabendo que o dia desfavorece a pescaria, os peixes com fisga acabaram levando, pois, uma pessoa precavida vale por duas. Colocaram a canoa na água, instalaram o motor e seguiram navegando em uma vereda por uns 80 metros até chegar ao rio.
O rio Carinhanha, naquele ponto, não é grande, porém tinha a água tão límpida que dava para ver o fundo de cascalho e de areia fina. Viam muitas piabas, timburés e piaus em abundância, nadando por todos lados. De início eles estavam apenas testando o motor, porém por sorte avistaram um trairão encostado perto de um tronco de árvore e eles o capturaram.
Ao chegarem com aquela traíra de uns 5 quilos, todos ficaram animados, por saberem que, se durante o dia conseguiram pescar um peixe daqueles, quanto mais a noite. Era uma traíra amarelada, diferente das que eles conheciam. Devido ao rio ter muita areia e cascalho, elas desenvolveram uma coloração mais clara. Preparam a traíra e fizeram ela toda ao molho para o café da manhã. Antes mesmo de terminarem o molho, alguns começaram a beber cerveja.
Enquanto eles limpavam o peixe, avistaram na vereda, naquela água límpida, muitas piabas e piaus. Os dois amigos resolveram pescar de anzol, só que não tinham levado iscas. Pretendiam arrancar minhocas no barranco do rio próximo à vereda. Visando uma pescaria rápida, resolveram picar um pedaço de carne de vaca em pedacinhos bem pequenos e tentar a sorte.
Cada vez que jogavam a isca dentro da água, pegavam um peixe. Fisgaram muitas piabas do rabo vermelho e alguns piaus. Resolveram mudar de lugar. Ao chegarem a um poço maior, viram que tinha muitos piau-três-pintas de tamanhos variados. Novamente jogaram o anzol na água e começaram a fisgar piaus com mais de um palmo de tamanho, um após o outro. Em menos de três horas conseguiram pegar um balde de 20 litros quase cheio, e pararam.
Mais tarde, limparam e prepararam todos aqueles peixes, temperaram alguns e fizeram aquela fritada.
Lembre-se de que era sexta-feira da paixão, naquela região estava muito quente, e eles transpiravam muito. No entanto, aquele calor todo não os incomodava, porque estavam adorando a pescaria à beira do rio e na vereda. Já tinham esquecido o quanto penaram, empurrando os carros na chegada até ali, e nem pensavam no retorno.
Após anoitecer, três dos amigos foram pescar de cilibrim e fisga. No início, eles pegaram algumas bicudas (curimatãs), depois resolveram deixar de pegá-las por estarem encontrando muitas traíras, enquanto subiam o rio. Os outros dois amigos ficaram se esbaldando no acampamento de tanto comerem peixes fritos e de tomar cervejas.
Lá pelas três e meia da madrugada, os amigos que estavam pescando retornaram para o acampamento e acordaram os outros pra ajudar a limpar os peixes e colocá-los no gelo. Ao verem a quantidade de traíras que tinham sido pescadas, um deles perguntou:
— Só tem traíra nesse rio?
— Claro que não, porém, por ser um peixe muito saboroso e a maioria delas terem de dois a cinco quilos, resolvemos pegá-las, em vez de bicudas ou piaus. Chegaram a pegar dois pacus e poucas bicudas, mas a maioria foram traíras grandes que deram para encher uma caixa de 170 litros de isopor.
Ainda bem que pegaram aquele tanto de peixes na primeira noite, porque nos outros dias começou a chover durante a tarde e a noite e não tiveram mais como pescar de fisga.
Pela manhã, os que gostavam de pescar de anzol continuaram pegando piabas e piaus na vereda e no rio. Também beberam bastante cerveja para alegrar a estadia naquele paraíso que parecia ter sido extraído do livro “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa. Uma paisagem linda, e ao mesmo tempo, um mergulho nas cruezas que o livro apresenta, foi o que me disse o amigo que me narrou essa história.
Aquelas veredas, emergindo e cortando o sertão afora, dando aquele caráter de que estavam vivendo ali há mais de cinquenta anos, sem energia elétrica, e ficando muitos meses sem ir ao povoado mais próximo, conforme dissera a eles aquele caseiro. Porém, feliz e de bem com a vida, sempre com um sorriso estampado no rosto, chamava-se Dimas, um homem simples que vivia isolado ali apenas com a esposa. Bastava conversar com ele alguns minutos, e se tinha um aprendizado de vida enorme.
Ao se ver a simplicidade e alegria do casal, sempre prestativos e com o sorriso estampado na cara, os amigos chegaram a comentar:
— O que é necessário para se viver bem e ser feliz daquele tanto?
Nesse instante as mentes devaneiam e começam a fazer várias indagações, tais como: O que é necessário para ser feliz? Se for dinheiro, porque muitos têm e não são felizes? Se for conforto, bem, ali definitivamente a noção de conforto era bem outra. Aquele casal não apenas viviam com o mínimo, eles aparentam ser muito felizes.
Partindo desse princípio, pode-se pensar que a felicidade é aceitar a vida como ela é. Ir-se vivendo como se estivesse em um barco à deriva, curtindo cada momento como se ele fosse o último. Talvez seja isso, e só. O que soaria limitante para nós seres humanos que somos expansivos. Mas, a felicidade pode ser um estado de espírito, pois aquele casal vivia como se estivessem em um oásis, gratos sempre pelos benefícios da natureza crua. De algum modo, eles vivendo isolados naquele sertão, cortado por algumas veredas, eram os senhores do lugar. E isso pode elevar a análise ao mais básico do ser humano, resumindo aquele lindo casal feliz ao arquétipo comum de “os poderosos do lugar”; o paraíso era governado por eles e somente eles.
Esses devaneios podem nos levar, inclusive, ao pensamento de que aquele casal não sente falta de outras realidades, porque eles sempre vivenciaram aquela, e não têm como sentir falta do que nunca tiveram. Senhores de sua versão de mundo, portanto. Ter um mundo só seu, com visitantes aleatórios e temporários, deve mesmo causar alguma felicidade. Mas, não teria essa felicidade apenas o decurso de cada estadia de cada visitante, indo-se embora quando esses partissem? A felicidade estava no lugar ou em quem chegava e era uma novidade? Como o casal ficaria depois, na rotina diária, um pelo outro? Seriam mesmo felizes quando a poeira dos carros assentasse?
Estou narrando esses fatos, por eles terem incomodado profundamente aquele pescador. Ele teria feito essa reflexão sobre o casal e depois sobre si mesmo e a realidade que existia fora daquele lugar. O que para ele e os amigos não passava de uma aventura, era a vida nua e crua daquele casal, talvez para sempre.
O retorno foi inevitável, e ele já via uma certa tristeza se firmando no lugar no momento da despedida. Estava certo, nem tudo era felicidade constante. Um pouco pertencia ao lugar, outro pouco a quem chegava. A partida gerava desconforto a ambos os lados. Despediram-se e pegaram a estrada.
Conforme o previsto, empurraram os carros na volta do mesmo jeito que empurraram na ida. O veículo Pampa não tinha som, mas o carro de passeio tinha um porta CD cheio. Contudo, a esposa do dono desse carro tirara os CD’s do carro e não dissera a ele. Ficara somente um CD, de Bruno & Marrone, inserido no som, com a música “Dormi na praça”, lançado em 2000, e tocou aquela música tantas vezes, durante quatro dias, que nenhum deles aguentava mais ouvi-la.
Alguns anos depois, três daqueles pescadores retornaram ao local. Contaram que pessoas do movimento Sem-terras invadiram uma fazenda do outro lado do rio e com o tempo, praticamente acabaram com os peixes da região. Mais um local que o homem conseguiu destruir em pouco tempo!


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quinta-feira

Combinação catastrófica: corrupção, mentira e falta de ética


Foi lançado recentemente o livro Combinação catastrófica: corrupção, mentira e falta de ética, pelo selo do Instituto ICEIB. O livro esta disponível na versão digital nas principais livrarias do país.
Sinopse do livroÉ inegável que nos últimos anos parte da população está descrente quanto ao comportamento de alguns servidores públicos e políticos, devido envolvimentos desses em atos censuráveis, com destaque para os casos conhecidos como Mensalão Petrolão. Estamos vivendo um momento de incertezas e crises em quase todos os campos. Fatos esses que têm provocado verdadeira indignação e descrença em boa parte da sociedade. Nesta obra, o filósofo Rogério Corrêa traz à tona alguns temas inquietantes e difíceis de serem resolvidos, como A ética na política é uma necessidade e/ou obrigação?; Corrupção: é uma ferida na sociedade brasileira; Mentira na política: uma combinação catastrófica para a sociedade; Uma análise filosófica do Código de Ética do Servidor Civil do Poder Executivo Federal; É preciso acreditar que dias melhores
virão; e Considerações sobre a melhor forma de governo. Por fim, na obra se fez reflexões e discussões sobre esses assuntos e suas implicações para a sociedade, além de ressaltar a importância de se ter comportamento retilíneo, de se ser moralmente correto, probo, cumprindo o dever de cidadão e de bem administrar a coisa pública, sendo exemplo para os demais.  

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