Trecho do
livro “Festas de Carros de Boi”:
►Carreiros
da Lapa
Clóvis Cardoso de Oliveira,
75 anos, da Fazenda Paulista, município de Catalão. Esse, tinha muitas
histórias pra contar. Ainda faço um livro só com ele! Mas, tomei uns
aperitivos, comi uns tira-gostos, e consegui umas poucas pérolas de seu Clóvis.
Senão, vejamos:
Ele foi a Vazante pela primeira vez em
1956, a fim de participar da Festa de
Nossa Senhora da Lapa, prática que o
povo catalanense mantém até hoje. Naquela época, a família e os amigos dele vinham de carros de boi e a cavalo, demoravam em
média cinco dias para percorrerem todo trajeto. Eles viajavam, mesmo em época
de natureza caprichosa, final de abril e início de maio, quando chovia muito.
Eles vestiam capa de chuva (capa plástica) toldavam os carros de boi com couro cru e folhas de buriti, mas os bois pegavam
bicho (varejeira) de tanta chuva.
Algumas vezes viajavam com garrotes ainda bravos, mas no trajeto eles
iam ficando mansos. Também acontecia de
alguns bois machucarem os cangotes e para curarem as feridas deles, passavam
sebo de vaca com azeite de mamona. Aconteceu de boi ficar ervado, e para curá-lo administravam meio litro de banha com meio
litro de rapadura raspada. Efiavam essa mistura goela abaixo do boi, e ele
melhorava. Foram muitas as vezes que seu Clóvis foi à Lapa de carro de boi, algumas dessas vezes,
carreando para os outros. No Pouso dos Pilões (pequeno povoado de Goiás, perto
da divisa com Minas), seu Clóvis achou que havia carros demais indo para a
festa e resolveu contá-los, só por curiosidade: 98 carros de boi. Procuravam andar em comitiva sempre que ia à festa
na Lapa, como eles chamavam Vazante naquela época. Ao chegarem à praça da
igreja, organizavam-se da melhor maneira possível, estacionando os carros
enfileirados. Para isso, esticavam fios de algodão tornando
as fileiras quase perfeitas. Todos montavam as barracas do lado direito do
carro, e
a média de um carro para o outro era de quatro metros, visando ter espaço
suficiente para os romeiros passarem de um lado para o outro. A boiada era
solta nos pastos da dona Tunica. Chegava gente de todos os lugares, centenas de
carros, milhares de bois, cavalos e burros. Êta festa boa!
►A grande promessa
Seu Clóvis Cardoso de Oliveira, certa vez
foi contratado por um fazendeiro para dar suporte com um carro de boi, para que ele cumprisse uma graça alcançada. Esse
fazendeiro tinha feito uma promessa para Nossa Senhora da Lapa, para que, se a
filha dele escapasse com poucas sequelas, da paralisia infantil da qual estava
padecendo, ele iria cumprir o prometido. Sua filha melhorou, ficou apenas manca
de uma das pernas. Consequentemente, no ano seguinte, esse pai percorreu a pé,
carregando a sua filha de 10 anos, da localidade onde ele morava, até a gruta
onde fica a imagem da Nossa Senhora da Lapa, em torno de 140 quilômetros. A
honestidade de quem tem a fé de haver recebido uma graça, é mesmo surpreendente.