Trecho do livro Histórias do além, de Rogério Corrêa:
O jeito foi mudar a casa de
lugar!
Há
muito tempo aconteceu algo assustador a um casal de irmãos. Naquela época uma
moça e seu irmão moravam em uma antiga casa, numa fazenda que herdaram dos
pais, que por sua vez, haviam herdado dos pais, avós desses irmãos.
Geralmente
as fazendas eram afastadas (ainda são) umas das outras, e na maioria das vezes
os rapazes namoravam filhas dos vizinhos, para não terem de se locomoverem para
tão longe, e o cavalo, era o principal meio de transporte.
Em
um dia atípico, de tardezinha a moça começou a sentir uns arrepios estranhos e
decidiu ir à casa da vizinha para não ficar sozinha, porque o seu irmão tinha
ido a cavalo distante dali, para namorar.

Em
cada uma das camas já iria dormir mais de uma pessoa, então, ela retornou
sozinha para sua casa, naquela noite escura, e preparou a cama para dormir.
Naquele
tempo não tinha energia elétrica nas fazendas, só lamparinas e candeias. De
repente, algo deu um puxão em sua coberta. Ela acendeu a lamparina e não viu nada.
Aumentou o pavio para iluminar mais, conferiu todas as tramelas[1]
das portas e janelas para ver se estavam bem fechadas, também olhou debaixo das
camas.
Depois
de procurar bastante e não encontrar nada, tornou a sentir os arrepios e bateu
aquele medo danado. Mas, pensou que poderia ser um rato e ele tinha se
escondido no assoalho, então resolveu voltar para a cama, apagou a lamparina.
Passou-se
um tempinho, e algo deu novo puxão em sua coberta. A moça novamente acendeu a
lamparina, olhou, e nada viu.
O
medo já tinha tomado conta dela, então, dessa vez, deixou a lamparina acessa
mais tempo, pensando que o seu irmão chegaria rápido. Mas, não chegou.
Outra
vez apagou a lamparina, e, depois de um longo tempo, a coberta da cama foi
puxada outra vez, mas, com tanta força, que foi parar no outro canto do
quarto.
A
moça disse que só não morreu, porque seu coração devia estar muito saudável.
Ficou tão apavorada, e, como dormir estava fora de questão, resolveu sair de
dentro de casa e aguardar o retorno do seu irmão do lado de fora.
Não
demorou muito, e escutou, ao longe o galopar do cavalo vindo em sua direção.
Gritou o nome do irmão e ele respondeu. Ele quis saber os motivos dela não
estar dormindo, e ela contou o que tinha acontecido. Ele sorriu muito, e disse
que era tudo coisa da cabeça dela, já que nunca tinha sucedido algo daquela
natureza na fazenda ou vizinhança.
Mas,
a moça estava tão assombrada, e o susto tinha sido tal que ela teve de dormir
com o irmão, todavia, naquela noite não houve mais incidentes.
No
dia seguinte a moça disse ao irmão que não dormiria mais na casa, e, preparou
suas roupas e as colocou em uma mala, despediu-se do irmão e seguiu para a
estrada de terra por onde um ônibus passaria pela manhã, em direção à cidade
mais próxima. Iria para a casa de familiares.
Contudo,
o irmão não quis acreditar naquilo que lhe pareceram supostas assombrações
sofridas pela irmã, e ficou sozinho na casa.
Alguns
dias se passaram, e aconteceram coisas bem piores com ele: tomaram a coberta,
escutou rinchados, gritos e latidos dentro da casa, e, quando acendia a
lamparina não via nada. O medo foi tão grande que na mesma noite ele saiu da
casa e foi dormir na fazenda do pai de sua namorada.
Ao
chegar lá na fazenda contou a eles o que aconteceu à sua irmã e a ele. O
assunto foi largamente discutido e os mais entendidos lhe aconselharam: “O
jeito é mudar a casa de lugar!”
Nos
dias que se seguiram permanecia na propriedade até a tarde, e, antes do
anoitecer seguia para a fazenda da namorada. Ao mesmo tempo avisava os amigos
que iria fazer um mutirão para desmanchar a casa.
Poucos
dias depois desmancharam a casa e fizeram outra próxima à estrada e a um
pequeno córrego.
Apesar
de haverem mudado a casa de lugar, a moça ficou com tanto receio de dormir na
casa, que pouco se lhe dava terem-na mudado de lugar. Nunca mais voltou lá para
pernoitar. Contudo, o irmão dela permaneceu lá, e, felizmente, o que quer que
houvesse de mal-assombrado, não acompanhou a casa na mudança, e o rapaz pôde
dormir em paz.
[1]Tramela: é uma espécie de tranca para portas e janelas de madeira, que é feita com um
pedaço de madeira resistente, com um furo no centro. Ela é pregada no batente
das portas e janelas, de tal modo que pode ser girada para trancar ou
destrancar.
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