domingo

Casebre mal-assombrado, texto do livro Histórias do além (assombrações, experiências sobrenaturais, visagens, tesouros, ...), de Rogério Corrêa

Texto do livro Histórias do além (assombrações, experiências sobrenaturais, visagens, tesouros, ...), de Rogério Corrêa:

Casebre mal-assombrado

Na sede velha da fazenda Claro de Minas já aconteceram muitas coisas estranhas.
O finado Jair contou que testemunhou um dia em que algumas pessoas espíritas desenterraram

um pequeno tesouro perto do velho casebre.
Aconteceram muitas coisas estranhas naquela noite, viram dicoques[1] do tamanho de uma bacia, um gato preto dos olhos vermelhos e do rabo muito grosso, além do aparecimento de marimbondos.
Zé Raimundo contou que morava na tal casa de fazenda do senhor José, seu compadre, e presenciou um casal de baianos que morava em Belo Horizonte e havia sido contratado para tirar as coisas esquisitas dali, falharem. Assim como outros, como se verá adiante. No caso dos baianos, um bicho prendeu as pernas do homem atrás da cabeça dele, e a coisa foi feia. Somente com muito sacrifício foi que as pernas do homem voltaram para o lugar.
Em outra ocasião chamaram uma mulher para “fazer o trabalho” de tentar retirar as assombrações do lugar. A mulher começou a falar coisas incompreensíveis, e andar com as mãos em lugar dos pés. Às vezes, andava apenas em uma das mãos dentro da casa. Foi um peteco só.
Já era bem tarde da noite, e o Zé Raimundo e a esposa dele não queriam dormir no local, então resolveram ir para Vazante.
No entanto, as pessoas contratadas pediram para ninguém ir enquanto não concluíssem todo o trabalho, caso contrário poderia acontecer alguma coisa no caminho.
As recomendações foram atendidas, aguardaram dentro do carro. Quando era de madrugada, acordaram e avistaram um homem estranho passando próximo ao carro e desaparecer em seguida. Isso não o impressionou, pois podia ser uma pessoa qualquer passando por ali naquele horário. Porém, criou coragem de ir embora para a cidade, mesmo correndo o perigo de o bicho jogar eles dentro de uma ponte ou coisa parecida.
Não aconteceu nada e também não resolveram o problema.
Novamente trouxeram ajuda com outra pessoa do ramo, outra mulher. Ela chegou na fazenda por volta de meio-dia. Pouco tempo depois ela disse que a coisa estava debaixo de um pé de manga. Mal falou isso e levou uma queda bruta que a virou de pés pra cima, ela se esborrachou no chão.
Ao se levantar, a mulher estava com uma voz estranha e falando coisas esquisitas, braba como uma onça raivosa, falando que iria pegar um da família. Nessa hora o homem que acompanhava a mulher pediu para ajudá-lo a segurá-la. A mulher passou a mão em um trancelim de ouro e o trancelim se despedaçou em muitos pedaços.
Continuava espumando a boca e falando coisas do outro mundo, coisas que ninguém entendia. O marido da mulher pediu ajuda. Ele era mais jovem, naquela época, tinha muita força. Foi em direção à mulher e deu uma cacetada nas costas dela, com as próprias mãos. Ele pensou que ela iria cair de bruços devido à forte pancada, só que a coisa deu uma cambalhota e caiu de costas, e continuou falando coisas estranhas.
Novamente o marido da mulher pediu ajuda, no sentido de irem buscar outro cidadão também dedicado ao mundo espiritual para ajudá-los a resolver o caso.
Zé Raimundo não quis saber de ir buscar o outro homem na cidade, entregou as chaves para ele e pediu que entregassem o carro no outro dia.
Pensou que não receberia o carro inteiro. No outro dia entregaram o carro do mesmo jeito que antes e foi informado que não deram conta de resolver o caso.
Se antes não tinha medo, a partir daí começou a ficar com muito receio da coisa. Por respeito ao proprietário da fazenda, apesar dos bons motivos para se mudar de lá, sempre era convencido a não o fazer, porque se se mudasse, nenhuma outra pessoa moraria lá.
Passados alguns dias, acordou durante a noite e sentiu um grande arruaço e ouviu uma voz grossa dentro do quarto escuro. Ele perguntou:
― Quem está aí? O que você quer?
E a coisa respondeu:
― A partir de agora, é eu, ocê ou um túmulo.
Naquela hora ele falou para a coisa que não queria nada de túmulo ou de coisa nenhuma, só queria sair dali.
Chamou a esposa, mas, ela não acordava de jeito nenhum. Depois de muita insistência, conseguiu despertá-la. Contou o que tinha acontecido e informou que iam para a cidade naquela hora (pouco mais de meia-noite). Era só o tempo de vestirem as roupas e pegar uma lamparina[2] para levar até o carro.
Zé Raimundo ficou com tanto medo que chegou a pensar que a coisa iria pegar eles no caminho e cortar o farol do carro. Por isso, tinha de levar uma lamparina.
Entrou no seu fusca e seguiu viagem muito preocupado e ainda assombrado. No caminho não aconteceu nada, porém, quando entrou na cidade, perto onde é o atual Fórum de Justiça, virou para à direita, na rua que atualmente fica a Delegacia de Polícia Civil. A coisa deu uma chicotada no carro, na parte traseira, fez um barulhão, parecia um tiro, de tão alto. Olhou pelo retrovisor e, dos lados, não viu nada. Perdeu a coragem de parar na delegacia e acelerou. Ao chegar na fazenda de seu patrão, não quis acordá-lo. Dormiram na casa próxima, onde a sua mãe morava.
Quando o dia amanheceu, o senhor José avistou o carro, e então foi cumprimentar seu compadre.
― Bom dia, compadre.
― Bom dia.
― O que aconteceu para estar aqui tão cedo? ― Ele perguntou.
Zé Raimundo contou tudo ao patrão, o compadre senhor José, e informou que não voltaria mais àquela casa.
Nessa hora o senhor José colocou as mãos na cabeça e suplicou:
― Meu compadre, pelo amor de Deus, não deixa a casa, porque se o senhor sair de lá, outra pessoa não permanecerá na casa.
― Compadre, dessa vez não tem volta, está decidido, não durmo lá nunca mais.
― Não tem volta mesmo?
― Não, compadre, eu lamento.
Zé Virgílio ficou calado por algum tempo, depois falou:
― O senhor vai ter que voltar lá agora para tirar o leite e levar sal para o gado.
Senhor José era muito sistemático, e por eles darem muito certo, resolveu fazer o solicitado. Quando já estava perto da fazenda, em uma reta, uns cento e poucos metros da casa, a coisa ruim pegou um dos lados do carro e levantou para o alto, se levantasse mais um pouco ele virava. Ficou com tanto medo que só lembrou de pedir proteção à Nossa Senhora, e, então, o cramulhão soltou o fusca e deu aquele solavanco que quase o despedaçou.
Zé Raimundo conta que olhou para os lados e não viu nada. Naquele momento ele se tremia todo, e o medo era demais. A parte da estrada em que ele estava era um lugar tão reto, e sem mais nem menos o trem fez aquilo com o carro!
Terminou de chegar na casa, porém, não entrou dentro dela. Zé Raimundo estava meio desorientado, parecia um tanto ruim da cabeça. Mesmo daquele jeito, tirou o leite, fez os queijos, colocou sal nos cochos e retornou para a fazenda do patrão.
Ficou tão descabreado com aquele lugar assombrado, que acabou esquecendo até o cachorro que ele mais gostava. Nos outros dias ele não retornou à fazenda, o senhor José tinha arrumado outro peão para tirar o leite e fazer os queijos.
Passados alguns dias, Zé Raimundo se lembrou de que tinha de voltar lá para buscar o cachorro, caso contrário, o cachorro morreria de fome.
Dessa vez foram a cavalo, levando um cachorro preto da irmã dele, o corta-ferro, e mais dois homens.
Olharam o gado, e, quando estavam passando perto do cemitério, veio um carro e atropelou o cachorro corta-ferro. O bichinho morreu na hora. O meu cachorro foi levado amarrado para não fugir.
Se é ou não coincidência, Zé Raimundo disse que evita pensar naquilo.
Alguns dias depois, voltou lá para mostrar a propriedade para o Baltazar, e o Baltazar disse a ele:
― Zé Raimundo você é mole demais, sô! Da donde já se viu isso? Se aparecer algo aqui, irei amarrar ele pelo saco.
Zé Raimundo desejou boa sorte, ao Baltazar, explicando que não teve coragem de permanecer ali.
Poucos dias depois de ele sair da casa, o Baltazar bebeu uma enorme quantidade de veneno Furadan[3], e de acordo com os conhecidos dele, fez até um buraco na cacunda.
Ficou-se sabendo também, pela boca dos outros, que logo após o Baltazar ter bebido veneno, foi em direção aos seus amigos e falou que tinha bebido uma coisa e ia morrer, só que não queria morrer de jeito nenhum, mas, ia morrer de todo jeito. E morreu de fato.
Zé Raimundo acha que foram as bobeiras que o sujeito falou que provocaram a sua morte.
Após essa tragédia o senhor José convidou um padre para uma celebração na fazenda assobrada. No dia da missa, além dos muitos convidados e familiares, estavam presentes junto com eles um pai de santo de outra cidade, para resguardar o padre, caso acontecesse algo com ele.
Apenas senhor José e a esposa dele tinham conhecimento do fato. Depois do ato ecumênico, nunca mais teve algo diferente na fazenda. Foram muitos os moradores e nenhum deles reclamou de assombração.
[1] Sapo bem grande conhecido popularmente como cururu.
[2] Lamparina é um objeto cônico de latão onde se derrama querosene que molha um cordão que serve de pavio para colocar fogo e iluminar o local. Lamparinas eram usadas principalmente onde não possuiam energia elétrica. Atualmente são poucas as localidades que as usam.
[3] Furadan é um veneno fortíssimo e perigoso. Inclusive existem vários relatos de pessoas perderem a vida após a sua ingestão.

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quinta-feira

Texto do livro Histórias do além (assombrações, experiências sobrenaturais, visagens, tesouros, ...), de Rogério Corrêa

 Texto do livro Histórias do além (assombrações, experiências sobrenaturais, visagens, tesouros, ...):

 O jeito foi mudar a casa de lugar! 

Há muito tempo aconteceu algo assustador a um casal de irmãos. Naquela época uma moça e seu irmão moravam em uma antiga casa, numa fazenda que herdaram dos pais, que


por sua vez, haviam herdado dos pais, avós desses irmãos.

Geralmente as fazendas eram afastadas (ainda são) umas das outras, e na maioria das vezes os rapazes namoravam filhas dos vizinhos, para não terem de se locomoverem para tão longe, e o cavalo, era o principal meio de transporte.

Em um dia atípico, de tardezinha a moça começou a sentir uns arrepios estranhos e decidiu ir à casa da vizinha para não ficar sozinha, porque o seu irmão tinha ido a cavalo distante dali, para namorar.

A vizinha era muito pobre e tinha vários filhos. Prosearam, jantaram, e lá pelas 8 horas o filho mais velho chegou com alguns primos para dormirem na casa. A moça assustada, tinha pensado em dormir na vizinha, porém, não teve como, porque as camas eram insuficientes para todos.

Em cada uma das camas já iria dormir mais de uma pessoa, então, ela retornou sozinha para sua casa, naquela noite escura, e preparou a cama para dormir.

Naquele tempo não tinha energia elétrica nas fazendas, só lamparinas e candeias. De repente, algo deu um puxão em sua coberta. Ela acendeu a lamparina e não viu nada. Aumentou o pavio para iluminar mais, conferiu todas as tramelas[1] das portas e janelas para ver se estavam bem fechadas, também olhou debaixo das camas.

Depois de procurar bastante e não encontrar nada, tornou a sentir os arrepios e bateu aquele medo danado. Mas, pensou que poderia ser um rato e ele tinha se escondido no assoalho, então resolveu voltar para a cama, apagou a lamparina.

Passou-se um tempinho, e algo deu novo puxão em sua coberta. A moça novamente acendeu a lamparina, olhou, e nada viu.

O medo já tinha tomado conta dela, então, dessa vez, deixou a lamparina acessa mais tempo, pensando que o seu irmão chegaria rápido. Mas, não chegou.

Outra vez apagou a lamparina, e, depois de um longo tempo, a coberta da cama foi puxada outra vez, mas, com tanta força, que foi parar no outro canto do quarto.

A moça disse que só não morreu, porque seu coração devia estar muito saudável. Ficou tão apavorada, e, como dormir estava fora de questão, resolveu sair de dentro de casa e aguardar o retorno do seu irmão do lado de fora.

Não demorou muito, e escutou, ao longe o galopar do cavalo vindo em sua direção. Gritou o nome do irmão e ele respondeu. Ele quis saber os motivos dela não estar dormindo, e ela contou o que tinha acontecido. Ele sorriu muito, e disse que era tudo coisa da cabeça dela, já que nunca tinha sucedido algo daquela natureza na fazenda ou vizinhança.

Mas, a moça estava tão assombrada, e o susto tinha sido tal que ela teve de dormir com o irmão, todavia, naquela noite não houve mais incidentes.

No dia seguinte a moça disse ao irmão que não dormiria mais na casa, e, preparou suas roupas e as colocou em uma mala, despediu-se do irmão e seguiu para a estrada de terra por onde um ônibus passaria pela manhã, em direção à cidade mais próxima. Iria para a casa de familiares.

Contudo, o irmão não quis acreditar naquilo que lhe pareceram supostas assombrações sofridas pela irmã, e ficou sozinho na casa.

Alguns dias se passaram, e aconteceram coisas bem piores com ele: tomaram a coberta, escutou rinchados, gritos e latidos dentro da casa, e, quando acendia a lamparina não via nada. O medo foi tão grande que na mesma noite ele saiu da casa e foi dormir na fazenda do pai de sua namorada.

Ao chegar lá na fazenda contou a eles o que aconteceu à sua irmã e a ele. O assunto foi largamente discutido e os mais entendidos lhe aconselharam: “O jeito é mudar a casa de lugar!”

Nos dias que se seguiram permanecia na propriedade até a tarde, e, antes do anoitecer seguia para a fazenda da namorada. Ao mesmo tempo avisava os amigos que iria fazer um mutirão para desmanchar a casa.

Poucos dias depois desmancharam a casa e fizeram outra próxima à estrada e a um pequeno córrego.

Apesar de haverem mudado a casa de lugar, a moça ficou com tanto receio de dormir na casa, que pouco se lhe dava terem-na mudado de lugar. Nunca mais voltou lá para pernoitar. Contudo, o irmão dela permaneceu lá, e, felizmente, o que quer que houvesse de mal-assombrado, não acompanhou a casa na mudança, e o rapaz pôde dormir em paz. 


[1]Tramela: é uma espécie de tranca para portas e janelas de madeira, que é feita com um pedaço de madeira resistente, com um furo no centro. Ela é pregada no batente das portas e janelas, de tal modo que pode ser girada para trancar ou destrancar.

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quarta-feira

Carro de boi concluindo a subida arranca rabo na serra da Boa Vista em Vazante - MG


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terça-feira

Carro de boi subindo serra

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Boiada carreira passando por riacho em Minas Gerais

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Carros de boi subindo o morro arranca rabinho na Serra da Boa Vista


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segunda-feira

Moagem de cana na Festa do Carro de Boi da Cachoeira

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quinta-feira

Carreiro experiente

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domingo

Carro de boi é pura tradição!

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Carro de boi sendo puxado por 7 juntas de boi cantando muito ao subir a Serra da Boa Vista

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quinta-feira

O bicho pegador de gente, texto do livro Histórias de Carreiros

Texto do livro Histórias de Carreiros, de Rogério Corrêa:

O bicho pegador de gente:


O Tião Corrêa contou que, antes do nascimento dele, o pai dele teve de fazer uma viagem de carro de boi até Patrocínio, para buscar uma carga, junto com outro carreiro e o



candeeiro Caetano. Naquela época, antes de 1940, não havia automóveis na região de Vazante. Ao chegarem próximo à rodovia de Patrocínio,  avistaram um carro antigo que eles chamavam de baratinha, foi quando o Caetano viu aquele negócio estranho,  com dois homens dentro, fazendo um barulho esquisito,  se aproximando. Então, o menino largou a guia e saiu correndo pelo serrado afora. Correu, correu, retornou e pulou dentro do carro de boi. Ficou encolhido abraçando o cabeçalho. O carreiro tentou acalmá-lo dizendo: “Larga de ser bobo, isso é apenas um carro à gasolina”. Caetano respondeu: “Não senhor, não senhor é um bicho, e ele já pegou dois!” Com muita dificuldade conseguiram tirar o Caetano de lá e seguiram viagem. Ao chegarem a Patrocínio, não demorou muito para ouvirem o apito do trem de ferro (maria fumaça) que estava chegando à cidade. Mas quando Caetano viu o tamanho do bicho, com aquele barulho quase que ensurdecedor, novamente ele se desesperou, saiu correndo e entrou na primeira casa que estava com a porta aberta e se escondeu debaixo da cama. Enquanto ele entrava correndo para dentro da casa, os moradores se assustaram e saíram correndo para fora, com medo, sem saber o que estava acontecendo. O carreiro Joaquim Machado pediu licença aos moradores para entrar na casa deles e tirar o Caetano de lá. Quando ele pegou no pé do Caetano e puxou, o menino gritou: “Não me leva não! Tô com medo, tô com medo! O bicho tava falando ticomu, ticomu, ticomu, ticomu!”

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Texto do livro Histórias de Carreiros, de Rogério Corrêa


Texto do livro Histórias de Carreiros:

→Técnicas utilizadas para amansar bois carreiros

Há várias técnicas para amansar bois carreiros. Cada carreiro ou candeeiro possui as
suas, embora algumas delas sejam mais eficientes que outras.
De modo geral, o amansador deve dedicar algum tempo a esse trabalho, ser paciente e inicialmente não deve fazer movimentos bruscos; falar baixinho, repetir o nome do animal com certa frequência, ou seja, deve possuir habilidades e destrezas exigidas na doma. Desaconselham-se colocar uma boiada brava no carro de boi e sair carreando no mesmo instante. É preciso passar por um processo de amansamento, habituar o animal a andar em parelha, à aceitação da canga, a saber usar a força em conjunto com os outros bois, a aceitar, reconhecer e obedecer aos comandos, saber realizar manobras, dentre outras habilidades esperada de uma boiada mansa e treinada.
Durante todo o processo de doma devem-se ter alguns cuidados para que não ocorram acidentes, sejam com os próprios bois, condutores ou terceiros. Não há uma idade específica para o boi ser treinado, mas quando são novilhos (garrotes) eles são mais dóceis, aceitam melhor a doma. Na maioria dos casos, eles escolhem-se juntas bem parecidas, mesma raça, tamanho, formato do corpo e coloração das pelagens semelhantes.
Alguns iniciam a doma amarrando cordas em volta do pescoço do bezerro ou novilho para ele se acostumar. Depois que se habitua, ajouja-se este a outro animal, e ensina-os a se locomoverem na mesma marcha, parelha. Posteriormente, alguns colocam as cangas e começam o arrastamento de pequenos troncos. Com o tempo, vai-se aumentando a carga, até se acostumarem a fazer força.
A partir dessa etapa, alguns estão aptos a serem colocados no carro de boi. Contudo, alguns carreiros advertem que o ideal é colocar na junta de coice e na de guia bois experientes; os novatos devem ser colocados nas juntas do meio, até que eles peguem mais experiências. Assim, posteriormente pode-se trocar as posições entre eles, para que aprendam a trabalhar nas funções desejadas, comutando, seja como bois de coice, do meio ou de guia.
Existem outros processos de amansamento, artifícios usados por muitos carreiros, como: novilho atrelado ao jungo giratório; novilho atrelado ao tornilho; novilho atrelado ao mourão.
Esses processos são semelhantes, pois em todos eles possuem um esteio grosso fincado firmemente no chão, com uma peça transversal na qual o boi é atrelado. O boi não tem como se locomover em linha reta, ele apenas fica circulando ao redor do esteio.
Há também o processo de atrelamento por uma peça de ferro, ou por um pequeno cambão com meadas nas pontas, para torcer a corda. Ali, se atrelam dois garrotes e os deixam soltos nas proximidades onde o carreiro esteja, até se acostumarem um com o outro, para depois passarem a outras fases.
Outra forma, é utilizando uma canga velha, mas esse método é em apenas um dos lados e em apenas um novilho. A canga é arrastada pelo novilho até que ele se acostume com o seu formato e peso.
Não se pode esquecer que mesmo que os bois sejam treinados, eles podem adquirir alguns hábitos que para muitos carreiros são defeitos, como: bois que jogam a canga ou negam a canga. Isso dificulta o trabalho do carreiro. Boi que dá coice no cambão, esses podem machucar o carreiro ou terceiros; aqueles bois que deitam e não se levantam, são chamados de boi que amua; boi escorão são aqueles que não fazem força; bois que negam guias são aqueles que bambeiam no momento de carrear; bois agressivos são perigosos e podem machucar pessoas ou animais etc.
Alguns carreiros mencionam que a doma de bois carreiros não é uma tarefa fácil. Nela se coloca a prova os conhecimentos e a desenvoltura do carreiro. Ultimamente, muitos deles não possuem as habilidades ou tempo necessário para esse fim. Tem carreiro preferindo contratar outro carreiro experiente para realizar a atividade que requer, principalmente, paciência, tempo, zelo e carinho com os animais.

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terça-feira

Manquezal das almas, trecho do livro Pescador de histórias


Texto do livro Pescador de Histórias, de Rogério Corrêa:

Manguezal das almas

 Algumas pessoas acham os mangues estranhos, e olha que nem conhecem o que aconteceu no mangue que ficou conhecido como manguezal das almas!
No século passado, algumas famílias tinham aquele manguezal como uma das principais fontes de alimento e de renda. Naquele mangue tinha peixes, caranguejos, camarões, mexilhões, ostras, cobras e muitos outros seres vivos que habitavam o rico ecossistema.
Lúcio conta que seu pai chegou a conhecer um pescador que amava e protegia aquele mangue.
Ainda novo o homem criava caso com os demais pescadores da vila para evitarem pescar em demasia; debatia quando alguém retirava caranguejos fora de época, ou outro alimento que o manguezal fornecia. Sempre alertava que, se os caranguejos fossem extraídos em excesso, seus netos não teriam aquela riqueza. Era um ambientalista, antes mesmo de esse termo ter sido cunhado ou estar na moda e, desconhecendo os conceitos que o definem, pois ele era analfabeto como muitos outros moradores. A sabedoria dele era tanta que sua leitura não parecia fazer tanta falta; um visionário, quando o assunto em pauta fosse a preservação da natureza.
Ele amava o manguezal e, por ironia do destino, foi no manguezal, quando ele estava capturando caranguejos, que uma cobra venenosa picou-o no pescoço. Levaram-no para a vila, mas ele não sobreviveu.
Depois da morte daquele senhor, começaram a acontecer coisas inexplicáveis no mangue. Ouviam-se gritos, zumbidos... E como é comum em coisas do outro mundo, ninguém encontrava a origem dos sons. Pouco a pouco os pescadores foram ficando receosos de pescar sozinhos no mangue, e decidiram andar em grupo.
Três pescadores mais novos, que não ligavam muito para boatos, decidiram ir ao manguezal em um número menor de pessoas. O plano deles era aumentar a captura de peixes e crustáceos, e em pouco tempo conseguiram isso. Tudo que pegavam vendiam, e foram comprando mais redes, armadilhas e pequenas canoas para apanharem cada vez mais pescado.
Além das redes e armadilhas iniciaram a pesca na encosta. Certo dia, os três barcos ficavam alguns metros um do outro durante a pescaria. Era uma noite de lua cheia e já tinham pescado muitos peixes. De repente, começaram a ouvir barulhos e zumbidos estranhos. Acenderam os lampiões e nada avistaram. Resolveram continuar pescando. Algum tempo depois ouviram uma forte batida bem próximo a eles. Ao olharem em direção ao barulho na água, viram sobre ela um vulto indo em direção ao mangue. Todos se assustaram, mas pensaram que fosse um bicho qualquer. Em seguida ouviram uma voz raivosa:
― Saiam daqui agora! Este mangue é meu!
Depois dessa afirmação, alguma coisa virou um dos barcos. Os outros pescadores estranharam e começaram a olhar ao redor, e  ao verem que alguma coisa estava indo em direção aos seus barcos, eles se jogaram na água e seguiram nadando para as margens, que não ficava longe.
A notícia se espalhou; comentários de que, se alguém fosse subtrair coisas em demasia do mangue, as almas dos protetores do manguezal apareceriam para eles e tomariam tudo.
Lúcio afirmou que até nos dias atuais as pessoas mais velhas daquele povoado ainda ensinam aos mais jovens a não tirarem mais do que o necessário do mangue, caso contrário terão de se haver com as almas do manguezal. 

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